A forte retração sofrida pela economia brasileira no último trimestre de 2016, confirmada nesta terça (7) pelo IBGE, era esperada por analistas, com base em outras estatísticas já conhecidas.
Dados recentes também permitem aos economistas vislumbrar o início de uma recuperação no início deste ano.
Mais difícil é prever, no entanto, qual será a rota dessa incipiente retomada e estimar quanto o país tem condições de crescer de forma sustentada daqui para a frente.
É consenso entre especialistas que a atual recuperação é frágil, sujeita a reveses caso o ambiente político se deteriore.
Uma ameaça muito citada é o risco de a reforma da Previdência não ser aprovada.
Isso, na visão dos economistas de mercado, aumentaria a percepção de que o rombo nas contas públicas não é sustentável, levando a uma fuga de investimentos e, numa situação mais grave, até a uma crise de solvência do governo.
Nesse cenário extremo, o Brasil poderia voltar a mergulhar numa recessão no curto prazo.
Se a reforma for aprovada, dizem especialistas, a atual retomada tem chance de ganhar fôlego. A dúvida é o quão grande pode ser esse fôlego.
As estimativas do chamado PIB potencial brasileiro —capacidade de crescer sem gerar pressões inflacionárias— variam, atualmente, de 1,5% a 3,5%.
É um intervalo grande, reflexo da desorganização gerada pela recessão, que dificulta a análise de vários fatores importantes para uma expansão, como a possibilidade de investimento das empresas.
“Essa recessão foi tão profunda que ainda é difícil saber o que foi resultado do ciclo de queda da atividade e o que é fruto da tendência de longo prazo da nossa economia”, afirma Paulo Picchetti, da Fundação Getulio Vargas.
Embora o cenário ainda seja permeado por muitas incertezas, é consenso entre os economistas que o teto para o crescimento do Brasil, atualmente, é baixo.
Segundo Rodrigo Zeidan, professor da universidade NYU Shanghai e da Fundação Dom Cabral, o país carece de instituições que permitam à economia funcionar de forma eficiente, aumentando a produtividade.
“Somos um dos piores países do mundo para fazer negócios, um dos mais fechados para o comércio internacional, nossas leis trabalhistas são das décadas de 1930-40”, afirma Zeidan.
A percepção de especialistas é que a crise dos últimos anos piorou ainda mais esse ambiente institucional:
“Houve uma deterioração grande. Quebras de contrato do governo com alguns setores aumentaram, por exemplo, a insegurança jurídica”, diz Picchetti.
Sem atacar esses problemas, o Brasil dificilmente conseguirá alcançar taxas de crescimento mais elevadas.
“Sairemos da recessão, mas, provavelmente, no nosso ciclo de voos de galinha intermitentes, sem crescimento duradouro”, diz Zeidan.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas do Goldman Sachs para a América Latina, o governo atual tem caminhado na direção correta, ao tentar solucionar o problema fiscal de curto prazo.
Mas, de acordo com Ramos, o ideal seria avançar em outras frentes ao mesmo tempo, com medidas para melhorar, por exemplo, a infraestrutura do país e a qualidade da educação:
“O perigo é pararmos [as reformas] prematuramente. Uma das principais lições da crise é que crescer, de forma sustentada, dá trabalho”.
Fonte: Folha Online