Caso fracasse na tentativa de votar a reforma da Previdência em fevereiro, o governo trabalha com a hipótese de fazer um último esforço de aprovação, ainda na gestão Michel Temer, em novembro.
O plano A, tanto da área econômica como do Planalto, segue sendo fevereiro. Mas a alternativa B vem se cristalizando em conversas, ainda que não seja consensual.
Na hipótese de o novo presidente não ser contra a reforma, governistas acreditam que haverá uma última janela, pois parte da base aliada não conseguirá se reeleger.
Assim, perderia efeito o discurso de que não dá para votar algo impopular temendo a punição nas urnas. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, nas últimas cinco eleições a renovação média da Câmara foi perto de 45%.
Nesse lago de 230 nomes, o governo precisaria pescar os 50 votos que, segundo suas contas, faltam para atingir os 308 necessários para aprovar a reforma em primeira votação. Um segundo turno na Câmara e mais duas rodadas no Senado viriam a seguir.
Um auxiliar de Temer, muito próximo dos trâmites congressuais, é cético sobre essa leitura, acreditando que é melhor ganhar ou perder em fevereiro, para no mínimo obrigar o debate sobre a Previdência na campanha.
Por óbvio, a hipótese de novembro demanda apoio ao menos tácito do eleito para o Planalto. Como diz um outro ministro, se o presidente eleito não disser nem sim, nem não, a senha estará dada.
O calvário da reforma da Previdência, vista como essencial para atacar o problema fiscal do país nos médio e longo prazos, se arrasta desde a posse de Temer em 2016.
O presidente fez avançar a agenda e tinha sua aprovação provável no primeiro semestre de 2017. Mas a eclosão do escândalo da JBS, com Temer sendo gravado pelo empresário Joesley Batista, embaralhou o cenário em maio.
O emedebista conseguiu derrubar na Câmara duas denúncias da Procuradoria-Geral da República, mas a operação custou-lhe o capital político. A reforma ficou, então, em banho-maria.
Aliados do governo temem o impacto de disputas na base sobre as negociações. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda, PSD) e Rodrigo Maia (DEM), o presidente da Câmara, buscaram ocupar espaços para viabilizar suas candidaturas ou cacife político nas composições para a disputa do Planalto. Com isso, Maia passou a disputar a paternidade da reforma.
O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência Standard & Poor’s alimenta esperanças. O fato de a agência ter apontado o dedo para o Congresso ao justificar a medida repercutiu mal —resta saber se o suficiente para fazê-lo votar reforma.
Fonte: Folha SP