A restrição ao uso do crédito rotativo para financiar dívidas do cartão, anunciada ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), pode representar uma economia de quase 12% para endividados. A comparação considera a diferença entre os juros pagos ao rolar um débito por três meses e em um financiamento no crédito parcelado, modalidade que deve ser adotada por quem atrasar a fatura por mais de um mês. Hoje, consumidores podem ficar presos ao rotativo indefinidadamente. Com a resolução do CMN, que vale a partir de 3 de abril, esse tipo de financiamento só poderá ser usado por 30 dias.
Hoje, já é comum que bancos ofereçam condições mais vantajosas para quem esta com dívidas. A novidade é que, a partir de abril, o débito não vai mais crescer indefinidamente. Após 30 dias, ou o cliente terá que pagar à vista ou poderá parcelar com taxas obrigatoriamente menores que as do rotativo. Os bancos não são obrigados a oferecer um financiamento mas a expectativa de analistas é que, para não aumentarem os índices de inadimplência, as instituições financeiras proponham alternativas aos clientes.
De acordo com a pesquisa mais recente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), as taxas de rotativo chegaram a 15,33% ao mês, em dezembro do ano passado. Já a do crédito parcelado é de 8% ao mês. Considerando essa diferença, o GLOBO preparou simulações de saldo devedor do cartão, financiado em 12 meses. No caso de uma dívida de R$ 1.000, o valor total pago ao longo de 12 meses no rotativo chegaria a R$ 2.245,08. No parcelamento com taxa menor, ficaria em R$ 1.592,28. A diferença é de R$ 652,80 ou 29,1%. Para um débito de R$ 3.000, a diferença entre os dois financiamentos chegaria a R$ 1.958,16, também na casa dos 29%.
Para Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Anefac, a medida pode colaborar para reduzir o alto índice de inadimplência do crédito rotativo, hoje quase em 40%.
— Vai fazer diferença. Ou o cliente paga integralmente ou vai ter o parcelamento com juros mais baixos. Os bancos vão ter liberdade para oferecer alternativas — avalia o diretor da Anefac.
A expectativa, segundo ele, é que os bancos criem condições de acordo com as possibilidades de pagamento dos clientes, tendo o pagamento mínimo da fatura como referência.
— O banco vai dar uma condição de prazo em que a parcela seja próxima do valor que o cliente pode — avalia.
Embora não haja uma estimativa oficial sobre tempo de uso do crédito rotativo, o especialista afirma que a tendência é que sair da dívida seja difícil, devido às altas taxas de juros.
— A maioria não consegue sair depois que entra no rotativo. É a mesma coisa que o cheque especial, que deveria ser só emergencial, mas se torna de longo prazo — afirma.
Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), avalia que a medida funciona como um mecanismo de saída dessa bola de neve. Ele considera que hoje exista um ciclo vicioso: a alta inadimplência incentiva os bancos a aumentarem o chamado spread (diferença entre a taxa de captação e a taxa cobrada ao consumidor), para compensar o risco.
— Isso não é bom para a instituição financeira, que quando tem um rombo (inadimplência) é obrigada a subir o spread. Esse mecanismo de financiamento gera uma situação ruim para o banco e ruim para o consumidor. A resolução propõe uma porta de saída — afirma.
Fonte: O Globo