A Prefeitura de São Paulo procura o projeto original do viaduto que cedeu na madrugada da última quinta-feira (15) na pista expressa da marginal Pinheiros. O viaduto passa sobre os trilhos da linha 9-esmeralda da CPTM. O local é rota de acesso à rodovia Castello Branco e próximo ao shopping e ao parque Villa Lobos, a 500 m da ponte do Jaguaré.
A estrutura foi projetada e construída por meio de um convênio entre o município e a Fepasa na década de 1970 e, de acordo com o secretário de Obras, Vitor Aly, o documento pode ter se perdido em um incêndio na empresa estadual que unificou a administração das ferrovias paulistas. “Não estamos muito otimistas em encontrar esse arquivo.”
A alternativa, segundo o secretário, é buscar no acervo da CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços), depositária desses documentos, e do DER (Departamento de Estradas de Rodagem), que fiscalizou as obras.
Alguns registros foram encontrados na secretaria municipal de Obras, mas não ajudaram muito. “Não tem memorial de cálculo, por exemplo”, diz o secretário sobre um dos estudos mais importantes de uma obra.
Para obter mais informações sobre a estrutura do viaduto, a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) buscou a viúva do engenheiro Walter de Almeida Braga (1930-2016), que projetou a estrutura. A viúva, porém, disse que se desfez do acervo do engenheiro.
Engenheiro especializado em estruturas, Braga participou de projetos importantes da cidade, como o da ponte Júlio de Mesquita Neto, da linha 2-verde do metrô e de parte do Cebolão.
As causas da ruptura, que criou um “degrau” de cerca de dois metros na pista, seguem desconhecidas e, como há risco de colapso da estrutura, a prefeitura tem pressa para içá-la.
TRÂNSITO
Por causa da queda do viaduto, a prefeitura decidiu interditar 20 km da pista expressa da marginal Pinheiros, no sentido Castello Branco, entre as pontes Transamérica e do Jaguaré, sob argumento de que a interdição de um trecho curto provocaria afunilamento.
O secretário de Transportes, João Octaviano, prevê ao menos dez intervenções na marginal Pinheiros nos próximos 20 dias para liberar acessos à via expressa. A primeira obra está sendo feita na altura do presídio de Pinheiros. A ideia, segundo o secretário, é abrir canteiros e novas faixas para facilitar o escoamento do trânsito.
O rodízio de veículos também foi suspenso por tempo indeterminado no trecho da marginal Pinheiros, sentido Castello Branco, entre a av. dos Bandeirantes e a ponte dos Remédios.
A marginal Pinheiros é a segunda via mais movimentada de São Paulo, atrás apenas da Tietê, e liga a cidade a diferentes rodovias e avenidas. Em apenas uma hora, no pico de tráfego, 13 mil veículos passam pelas oito faixas da marginal, incluindo a pista local. Cinco dessas faixas estão agora interditadas. Em um dia comum, trafegam 450 mil veículos nos dois sentidos da marginal Pinheiros.
As áreas mais atingidas dentro dos bairros são as vias da zona oeste, entre a marginal Pinheiros e o centro. Um esquema especial orienta o trânsito nos eixos das avenidas Faria Lima, Pedroso de Morais, Professor Fonseca Rodrigues e a Doutor Gastão Vidigal. Essas avenidas servem de alternativas à interdição da pista expressa na marginal —na Pinheiros, somente a via local segue liberada para veículos.
A prefeitura também orienta que os motoristas vindos das rodovias Anchieta, Imigrantes e Régis Bittencourt peguem o Rodoanel e a rodovia Castello Branco até alcançar a marginal Tietê. Outras opções para quem sai do litoral são as avenidas do Estado e Salim Farah Maluf.
A expectativa é de altos índices de congestionamento nas vias próximas ao viaduto a partir desta quarta-feira (21), quando os paulistanos voltam ao trabalho e às aulas após um período de seis dias de feriado prolongado.
Nesta segunda-feira, pela manhã, o trânsito fluiu normalmente na via local da marginal Pinheiros. Era possível atingir a velocidade máxima permitida de 50 km/h em boa parte da marginal no sentido Castello Branco. Um ponto de parada ficou restrito a cerca de 1 km do local do acidente, onde os motoristas curiosos reduzem a velocidade para ver o viaduto interditado. A prefeitura instalou tapumes na grade que protege os baixos do viaduto para evitar justamente esse tipo de comportamento.
Nesta segunda-feira, o prefeito Bruno Covas (PSDB) informou que irá pedir autorização ao TCM (Tribunal de Contas do Município) para abrir um contrato emergencial para a realização de laudos de engenharia para fazer a manutenção de 185 pontes em viadutos da cidade. “O monitoramento [dessas estruturas] é incompleto”, disse o prefeito. Essa avaliação das pontes e viadutos tem sido feita de forma visual pelos funcionários da secretaria de Obras, de acordo com o prefeito.
Covas afirmou ainda que a gestão tucana havia encomendado estudos de monitoramento em 33 pontes e viadutos que apresentavam problemas visíveis. Com o incidente na marginal, a medida será estendida a todas as estruturas viárias da capital.
Os anúncios foram feitos na manhã desta segunda-feira (19) após reunião do comitê de emergência formado por secretários municipais, realizada logo cedo na sede da prefeitura. A reunião começou por volta das 7h e durou mais de duas horas. Foi a primeira reunião presencial do comitê que vinha conversando por conferências.
Neste ano, a gestão Bruno Covas (PSDB) gastou apenas 5,3% do valor previsto para recuperação e reforço de pontes e viadutos em São Paulo. A administração municipal reservou R$ 44,7 milhões para recuperação e reforço de viadutos e pontes no Orçamento deste ano. No entanto, a menos de um mês e meio do final do ano, gastou até agora apenas R$ 2,4 milhões.
A Prefeitura de São Paulo é alvo de cobranças há mais de uma década para reformar pontes e viadutos que requerem manutenção preventiva e reparos. A situação se arrasta por pelo menos quatro prefeitos —Gilberto Kassab (PSD), de 2006 a 2012, Fernando Haddad (PT), de 2013 a 2016, João Doria (PSDB), de 2017 a abril de 2018, e Bruno Covas (PSDB)— sem que uma ampla ação efetiva tenha sido realizada.
Segundo o Ministério Público, a maioria das pontes e viadutos da cidade foram erguidos entre as décadas de 1960 e 1970 e, desde lá, não passaram por manutenção adequada nem receberam atenção de prevenção a contento. A falta de atenção rotineira às instalações também acabou por inflar os valores das obras.
Fonte: Folha de São Paulo