O uso de energia em edifícios — desde o resfriamento ao aquecimento de casa até a manutenção das luzes do escritório — é responsável por mais de um terço de todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) nos Estados Unidos. Reduzi-las em 80% até 2050 contribuiria, portanto, de forma significativa para combater as alterações climáticas. Um novo modelo desenvolvido por pesquisadores de dois laboratórios nacionais norte-americanos sugere que atingir essa meta exigirá a instalação de tecnologias de construção altamente eficientes, novas abordagens operacionais e eletrificação de sistemas prediais que consomem combustíveis fósseis, além de aumentos na participação de fontes de energia renováveis no fornecimento energético.
“Os edifícios são uma alavanca substancial para tentar reduzir as emissões totais de CO2”, diz Jared Langevin, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley e principal autor do estudo, publicado na revista Joule. Ele afirma que, embora direcionada à realidade norte-americana, as lições da pesquisa são universais. “Como o setor predial usa energia de várias maneiras e é responsável por uma parcela tão grande da demanda por eletricidade, os edifícios podem ajudar a acelerar a integração econômica de fontes limpas de eletricidade, além de contribuir para reduções diretas de emissões”, sustenta.
Para estimar a magnitude das possíveis reduções de emissões de CO2 do setor ao longo de várias décadas, os pesquisadores consideraram três tipos de medidas de eficiência — tecnologias com maior desempenho energético do que alternativas comumente usadas. Incluem-se, no primeiro grupo tecnológico, janelas dinâmicas, selagem de paredes, sensoriamento e controle de estratégias que melhoram a eficiência das operações de construção, e conversão do aquecimento a combustível por equipamentos que usem água. Eles também avaliaram como a incorporação de fontes de energia renováveis na rede elétrica, paralela aos outros esforços, mudaria as estimativas de redução de emissões do setor predial.
“Medidas que melhorem a eficiência da demanda de energia dos edifícios precisam fazer parte da solução do problema dos gases de efeito estufa”, alega Langevin. “Chegar perto da meta de 80% de redução de emissões requer reduções simultâneas na demanda de energia predial, a eletrificação dessa demanda e a penetração substancial de fontes renováveis de eletricidade até 2050. Além disso, o setor pode suportar o custo da integração efetiva de fontes renováveis variáveis, oferecendo flexibilidade em seus padrões operacionais em resposta às necessidades da rede elétrica.”
Envelope
Analisando os resultados de medidas específicas de eficiência energética, os pesquisadores identificaram dois caminhos particularmente promissores para reduzir as emissões. O primeiro envolve reformas e upgrades nas tecnologias de paredes, janelas, telhados e isolamento — o chamado “envelope” do prédio —, abordagens que também podem aumentar o conforto e a qualidade de vida de quem mora ou trabalha no edifício. O segundo se concentra em softwares inteligentes que são capazes de otimizar quando, onde e em que grau os serviços de aquecimento, refrigeração, iluminação e ventilação devem ser fornecidos.
Os pesquisadores ressaltam que adotar essas estratégias depende de formuladores de políticas públicas, fabricantes e fornecedores, profissionais da construção e da prestação de serviços, e dos consumidores. “Regulamentos e incentivos que apoiam a venda de opções tecnológicas mais eficientes e menos intensivas em carbono, pesquisa e desenvolvimento em estágio inicial que impulsionam avanços no desenvolvimento tecnológico, marketing agressivo dessas alternativas uma vez desenvolvidas, treinamento para empreiteiros locais encarregados da instalação de tecnologia e a disposição dos consumidores em considerar a compra de novas opções no mercado são necessários para alcançar a meta de redução de emissões de 80% até 2050”, diz Langevin.
Fonte: Correio Braziliense