Mobilidade não é uma preocupação recente do Senge-SC (Sindicato dos Engenheiros do Estado de Santa Catarina), entidade que integra grupos de trabalho e de discussões desde a década de 1980. O Senge-SC atuou em defesa da duplicação da BR-101 e da SC-401, da recuperação da Ponte Hercílio Luz – interditada ao trânsito de veículos e pedestres desde 1982 – e de inúmeras obras públicas necessárias à melhoria da mobilidade em Santa Catarina, sempre com foco nas soluções técnicas de engenharia. O Senge-SC participa inclusive de uma das mais importantes iniciativas multiprofissionais do Estado, o Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Região Metropolitana de Florianópolis). O Plamus foi construído ao longo dos últimos dois anos, com a participação de inúmeras instituições públicas e privadas, justamente para incrementar alternativas técnicas capazes de reduzir os graves problemas de mobilidade na maior região metropolitana do Estado, hoje com mais de 1 milhão de habitantes. O presidente do Senge-SC, engenheiro Fábio Ritzmann, observa, no entanto, que “mobilidade é um assunto muito complexo, não se restringe a estradas ou vias públicas em geral. Essas questões são evidentemente relacionadas, mas não são as únicas que integram o conceito. Acessibilidade, por exemplo, é algo que também se relaciona à mobilidade e não apenas quanto a ruas ou rodovias, mas a situações bem específicas do cotidiano das cidades”. Fábio Ritzmann entende que existem muitos conflitos envolvendo o tema – ou o conceito – de mobilidade. “Há os que defendem transporte coletivo como solução. Outros enfatizam as ciclovias. É necessário coordenar as diferentes percepções que os grupos de estudiosos têm sobre o tema, procurando adequá-las tecnicamente”, diz. “A população às vezes tem uma ideia distorcida desses debates, porque parece que há uma disputa entre A e B, quando na verdade tudo isso deveria funcionar de forma unificada”.
TRANSPORTE COLETIVO NO PLANO DIRETOR
“No quesito do transporte coletivo, por exemplo, nós engenheiros vemos um relativo equívoco quando se trata da Capital. O sistema deveria estar inserido no Plano Diretor, como fez Curitiba (PR), mas o que percebemos é o oposto: constrói-se o plano, sem considerar a problemática envolvida no transporte coletivo. Nem precisaríamos perder tempo em longas discussões a propósito do tema, porque o PD já teria previsto. A participação da engenharia, nessas discussões e grupos de trabalho, inclusive do PD, é fundamental, porque o engenheiro é um profissional preparado para o planejamento e execução de soluções”.
CADA CIDADE É UM CASO A SER ESTUDADO
Para o presidente do Senge-SC, “tudo o que é debatido em diversas instâncias, públicas ou privadas, deveria supor planejamento e execução em conjunto. Por isso apontamos a falha do Plano Diretor, ao desconsiderar a mobilidade urbana numa cidade problemática como Florianópolis”. Ele vai mais adiante: “A vida das cidades depende da movimentação das pessoas, não apenas de carro, de ônibus ou de bicicleta. Por isso é importante que, nos debates, não tenhamos a percepção de que as soluções sejam simples, que um grupo puxe para um lado e outro para outro lado. O entendimento é complexo e não pode ser resumido ao transporte coletivo ou ciclovias. Não existe uma receita única, cada lugar, cada cidade, é um caso a ser estudado e compreendido”. Ainda conforme o engenheiro, “o planejamento urbano tem que ser técnico, seguir normas, padrões regulamentados, para evitar problemas para a mobilidade. Por isso entendemos que, antes do Plamus e de outras iniciativas louváveis, a mobilidade deveria ser tratada pelos planos diretores das cidades”.