Um estudo publicado na revista Nature revelou que cerca de 40% dos oceanos apresentaram mudanças significativas na coloração nas últimas duas décadas, um fenômeno atribuído às mudanças climáticas. A pesquisa, liderada por cientistas do MIT e do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, analisou dados de satélite do sensor MODIS-Aqua da NASA entre 2002 e 2022, detectando alterações sutis no espectro de luz refletido pelas águas.
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A cor dos oceanos está diretamente ligada à presença de fitoplâncton, algas microscópicas essenciais para a regulação do clima e a cadeia alimentar marinha. O estudo utilizou uma métrica chamada RRS (Reflectância Remota do Oceano), que mede a luz refletida pela superfície do mar em diferentes comprimentos de onda. Mudanças nessa métrica revelam transformações na ecologia dos oceanos.
— As mudanças no RRS indicam alterações nos ecossistemas da superfície oceânica e nas comunidades microbianas — destacaram os pesquisadores no artigo.
A análise constatou que essa métrica apresentou mudanças expressivas em regiões subtropicais e tropicais, onde a variabilidade climática interanual é mais baixa, o que facilita a detecção de tendências a longo prazo.
As alterações na cor dos oceanos são um reflexo do impacto climático nas comunidades de fitoplâncton. Com o aumento das temperaturas globais, mudanças na profundidade da camada de mistura dos oceanos e na estratificação da água afetam a distribuição desses organismos. Isso pode comprometer não apenas a produção de oxigênio e a absorção de dióxido de carbono, mas também toda a cadeia alimentar marinha, desde pequenos peixes até grandes predadores.
Até recentemente, pesquisadores acreditavam que seriam necessários mais de 30 anos de observação para identificar tendências globais relacionadas ao clima. Contudo, o avanço das técnicas estatísticas permitiu a identificação das mudanças em apenas 20 anos. A missão MODIS-Aqua, originalmente planejada para durar seis anos, foi estendida e se tornou a mais longa série de dados oceânicos já registrada por um único satélite.
Embora o estudo tenha sido focado nas mudanças de cor, os cientistas alertam que essas transformações são mais profundas, e afetam a biodiversidade e os ciclos biogeoquímicos dos oceanos. Eles também destacaram a necessidade de continuar a observação com novas missões de satélite, dada a proximidade do fim da missão MODIS-Aqua.
Fonte: O Globo