Abrindo o segundo dia de atividades, na quinta-feira (23/9), o XI Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse) promoveu o debate “Água e energia para o desenvolvimento e a soberania”, com as exposições do deputado federal e ex-ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (DEM/PE); de Vicente Andreu Guillo, ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA); Marcus Vinícius Fernandes Neves, presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa); e Roberto D’Araújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina).
O XI Conse, promovido pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), foi realizado de forma virtual pela primeira vez, devido à pandemia de Covid-19, e transmitido pelo canal da entidade no Youtube – clique aqui e veja todas as mesas da atividade.
O coordenador do projeto Cresce Brasil +Engenharia +Desenvolvimento e diretor da FNE, Fernando Palmezan Neto, conduziu as falas da mesa virtual que teve ainda a participação de Carlos Monte, coordenador da consultoria técnica do Cresce Brasil; Antonio Florentino de Souza Filho, vice-presidente da FNE e presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Piauí (Senge-PI); Eugênia Von Paumgartten, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Pará (Senge-PA); Gerson Tertuliano, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Goiás (Senge-GO); e Fábio Marinho, diretor da entidade paraense e profissional da Eletrobras Eletronorte.
“Estamos num momento difícil; além das crises na saúde, economia e política, ainda podemos ter crise de água e, consequentemente, de energia”, avaliou o presidente da FNE e do SEESP, Murilo Pinheiro. E reforçou a importância do debate: “Nós, juntos, podemos fazer a diferença. Acredito que a unindo a tecnologia e a sabedoria podemos discutir e sugerir propostas que ajudem o País”.
Coelho Filho colocou em pauta a viabilidade de geração a partir de diversas fontes e a importância da diversificação. “Essa discussão de racionamento e apagão sempre volta, como tivemos em 2001. Mas, em 2001, o País tinha 84% de dependência de geração hídrica. Hoje estamos falando de algo em torno de 65%”, destacou.
Segundo ele, ainda assim, a dependência da água é grande, pois o aumento das fontes de energia intermitentes, como eólica e solar, não foi acompanhado pelo desenvolvimento nas fontes de energias base – sendo essas hidrelétricas ou térmicas.
“As últimas grandes obras da engenharia nacional foram em usinas a fio d’água [que não utilizam reservatórios], como a de Belo Monte (Pará), Santo Antônio e Jirau (Rondônia). Mas neste momento de maior dificuldade que vivemos, Belo Monte, por exemplo, está operando com meia turbina”, frisou.
Em sua visão, o desafio é equilibrar a produção entre essas matrizes para garantir a geração de energia mesmo em tempos de condições adversas, como pouca chuva.
Crise de energia
Presente na pauta da grande mídia e dos brasileiros, a crise hídrica que ameaça causar um novo apagão, na avaliação de Andreu, não é um problema pontual e poderia ter sido prevista. Para ele, atualmente, o que existe é uma “crise de energia, fabricada a partir de uma gestão irresponsável dos reservatórios, principalmente nos períodos chuvosos”.
Ele elucidou, com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que a projeção do comportamento dos reservatórios para 2021 foi feita com base em 2020, que apresentava menos problemas de escassez que 2019. “Ao usar um cenário menos restritivo você retarda o início de medidas mais drásticas”, afirmou. E prosseguiu: “essa operação tem a consequência da explosão do custo marginal de operação, o que reflete nas bandeiras tarifárias”.
“Com a privatização da Eletrobras, nós vamos criar de novo uma condição que o Brasil vinha superando, de termos o setor elétrico como dono do rio e determinando as prioridades de uso nas bacias brasileiras”, afirmou. “Se nós tínhamos todos os instrumentos para evitar o racionamento, a sucessão de erros pode ocasionar de fato um apagão”, avaliou.
Confira a apresentação de Vicente Andreu Guillo
Nessa direção, D’Araujo mostrou que o Brasil é o vice-campeão mundial de eletricidade cara, com dados que comparam o preço do quilowatt-hora dentro do País a outros elementos como salário, aluguel etc. “E nós vamos ganhar da Alemanha, que é a primeira colocada, pelo reajuste que vem aí”, ressaltou.
Na sua avaliação, a desestatização da Eletrobras, não apenas no sentido tarifário, mas no equilíbrio de gestão e desenvolvimento do setor, é uma grande perda. “O Brasil vai ser o único país entre os dez líderes em eletricidade que terá a iniciativa privada no controle do setor”, criticou.
Confira a apresentação de Roberto D’Araújo
“Ao longo de 20 anos não se deu a necessária atenção a algumas oportunidades de melhorar a geração de energia elétrica”, ponderou Carlos Monte. Para o engenheiro, não estão sendo pensadas práticas para o uso eficiente da energia, “e algumas das práticas erradas do gerenciamento está no enfraquecimento da Eletrobras”. “O País cede aos interesses que não são do povo”, contestou.
Gestão da água
Marcus Vinícius Fernandes Neves trouxe ao debate um olhar sobre a gestão da água. Segundo ele, foi a partir de 2007 que o tema ganhou força. “Obra de saneamento, até então, não era vista como obra prioritária de infraestrutura”, comentou. O assunto volta a ser discutido amplamente com o novo Marco Legal, porém a Lei 14.026/2020 não supre os desafios do setor, segundo ele.
“Dinheiro por si só, se não tiver inteligência, planejamento, organização e capacidade de governança, não resolve o problema”, afirmou Neves. E apontou: “a universalização passa obrigatoriamente por um pacto público-privado […] os dois setores precisam buscar as convergências, atenuar os pontos divergentes e, principalmente, temos que ter estrutura de governança que permita efetivamente uma gestão integrada de todos os sistemas, buscando trazer água e garantir a segurança hídrica, tão importante para a sobrevivência humana”.
Aquecimento global, Amazônia, energia fotovoltaica entre outros assuntos também entraram na pauta do debate. Assista à íntegra: