O mundo enfrenta uma mudança sem precedentes no comportamento do clima. Enquanto as ações humanas continuam acelerando o superaquecimento do planeta, aqui no Brasil pouco se tem feito para lidar com o caos anunciado.
“Há anos, a ciência vem mostrando que a média de chuvas no Sudeste tem crescido em função do aquecimento global, e que irá aumentar ainda mais. Além da incidência, a distribuição será cada vez mais irregular, com riscos de eventos extremos ainda maiores do que esses que têm atingido a capital mineira”, diz o cientista Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Os últimos dias em Belo Horizonte têm sido assustadores e tristes”, conta Evelin Amorim, 35 anos, voluntária do Greenpeace e moradora da capital mineira. “Quando chove, fico com receio do que pode acontecer. Vejo colegas de trabalho sem poder sair de casa. E quando conseguimos sair, damos de cara com uma cidade destruída de diversas formas; árvores caídas, calçadas arrancadas e lixo por toda a parte. Isso entristece demais. Sem contar as regiões onde barrancos caíram e rios transbordaram. É nesses lugares onde estão as pessoas que mais sofrem, pois são as mais vulneráveis a esse tipo de catástrofe”, diz.
Além da urgência global de que os países atuem na redução das emissões mundiais de gases de efeito estufa, há problemas locais que também precisam ser vistos de perto. Por exemplo, a falta de planejamento de uma cidade que cresce sobre rios e que agora precisa lidar com a água que emerge de forma assustadora, a desigualdade social que força pessoas a morarem em áreas de risco e a se tornarem mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, e a falta de investimento em transporte coletivo que faz aumentar a quantidade de carros, a poluição e os problemas de saúde. Todas essas são questões que devem ser levantadas e servir de ferramenta para cobrar o poder público.
Toda essa tragédia poderia ter sido evitada?
O Brasil possui um Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA). Trata-se de um documento lançado pelo governo federal em 2016, que reconhece as mudanças do clima, identifica a exposição do país aos impactos dessas mudanças e propõe uma série de ações de adaptação para cada setor. O PNA foi desenvolvido em colaboração com a sociedade civil, o setor privado e os governos estaduais.
No segundo capítulo da estratégia geral, o PNA traz um dado reconhecido cientificamente: o país já enfrenta impactos das mudanças climáticas com um aumento do número de dias com chuvas acima de 30 mm na região Sudeste. “Ter um Plano do governo federal que já prevê aumento de chuvas e constatar que não houve preparação para lidar com esses efeitos climáticos extremos de 2016 até agora, mostra o quanto estamos atrasados na implementação da política pública”, diz Iago Hairon, da campanha de Clima do Greenpeace Brasil.
Segundo Rittl, o contexto político é mais um entrave para a aplicação dessas ações. “Temos um governo que ignora a ciência e cheio de negacionistas, como os ministros de relações exteriores e de meio ambiente. Ricardo Salles praticamente acabou com a Política Nacional sobre Mudança do Clima e engavetou o Plano Nacional para Adaptação à Mudança do Clima. Não são as fortes chuvas que matam pessoas e provocam destruição. A culpa é toda da irresponsabilidade, da negligência e do negacionismo de governantes”, ressalta.
“As chuvas já causaram prejuízo para mais de 50 mil pessoas, só em Minas Gerais, e deixaram dezenas de mortos. Medidas de mitigação e adaptação ligadas ao uso do espaço urbano valorizando o território e a população são cada vez mais urgentes diante de eventos climáticos extremos”, defende Sofia Corradi, 23 anos, ativista da ONG Engajamundo e moradora de Belo Horizonte.
O Greenpeace lamenta as mortes e danos ocorridos em Minas Gerais e no Espírito Santo, solidarizando-se com todas as vítimas dessa catástrofe. Além disso, continuamos defendendo a ciência e a urgente necessidade de incluirmos as mudanças climáticas na pauta política.
Fonte: FNE