A fintech brasileira Nubank anunciou segunda-feira, 6, a primeira aquisição de sua história: a consultoria Plataformatec, especializada em engenharia de software e metodologias ágeis. A partir desta data, o time de 50 profissionais da Plataformatec será integrado à equipe de desenvolvimento do Nubank, em notícia revelada com exclusividade ao Estado. Segundo Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, a aquisição se deve especialmente à qualidade do time da empresa – prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação, em tradução literal).
“Nosso maior gargalo hoje é na área técnica e o time da Plataformatec já vinha prestando consultoria para nós há algum tempo, com um nível muito bom de talentos”, explica Cristina. Além do Nubank, a consultoria Plataformatec tinha clientes como a fintech Creditas, a corretora de investimentos Easynvest e a editora Abril. A empresa foi fundada em 2009, em São Paulo, por Marcelo Park.
Segundo Cristina, o Nubank não descarta outras aquisições no futuro, mas este será um recurso utilizado criteriosamente pela startup. “Aquisição é ferramenta, não pode ser estratégia de negócios. Não adianta adquirir uma empresa que tenha um produto que não seja tão bom quanto o nosso”, diz a executiva.
Dentro de casa
A equipe de engenharia do Nubank fechou 2019 com cerca de 500 profissionais, após contratar 300 pessoas ao longo do ano – um crescimento de 130% na comparação com a temporada anterior. De acordo com a executiva, a meta da empresa é seguir no mesmo ritmo de atração de talentos. “A maior restrição é a qualidade do talento que a gente encontra”, afirma ela.
Além de contratar aqui no Brasil, o Nubank também busca engenheiros fora do País – a fintech possui escritórios no México, na Argentina e um centro de engenharia em Berlim, na Alemanha. “Se a gente conseguir atrair mais talento por esses outros escritórios, é ótimo”, afirma.
Ao todo, o Nubank tem 2,5 mil funcionários – em julho, quando recebeu aporte de US$ 400 milhões do fundo americano TCV e ficou avaliado em cerca de US$ 10 bi, o Nubank tinha 1,7 mil pessoas. Fundado em 2013, o Nubank tem hoje quase 20 milhões de usuários no Brasil, divididos entre a conta digital da empresa, a NuConta, e o cartão de crédito roxo que a tornou conhecida. Segundo Cristina, a meta para 2020 é aumentar a base de clientes em torno de 50%, chegando a cerca de 30 milhões de pessoas, mas também ampliar o engajamento dos usuários com os produtos. “Queremos ser a conta principal das pessoas”, diz.
Novos produtos
A contratação massiva de engenheiros nos últimos meses vai permitir que a empresa acelere o desenvolvimento de alguns produtos bastante esperados. Um deles é a linha de empréstimos pessoais para os usuários da NuConta. “É algo que testamos desde 2019 e que pode nos ajudar a gerar rentabilidade muito rapidamente”, afirma Cristina. Os novos engenheiros também vão permitir que a empresa, diz ela, se torne mais eficiente ao automatizar processos, reduzindo custos e aumentando a receita.
Mas, na visão da executiva, isso não significa necessariamente que a empresa vá perseguir obstinadamente o lucro – uma crítica frequente ao Nubank no mercado é de que a startup cresce bastante, mas ainda não tem lucro. No 1º semestre de 2019, por exemplo, a empresa teve prejuízo contábil de R$ 139 milhões. “Se nós parássemos de crescer hoje, sem absorver novos clientes, que consomem investimentos até gerarem receita, já daríamos lucro”, afirma Cristina. “Não é algo que vamos perseguir cegamente. Queremos crescer em ritmo sustentável e com oportunidades de eficiência. Se isso vai nos levar a dar lucro, ótimo.”
Outro plano para 2020 no Nubank é a expansão internacional: segundo a empresa, está previsto o lançamento do cartão de crédito roxo no mercado mexicano ainda neste primeiro trimestre. “Estamos fazendo testes por lá, a resposta inicial é boa, mas ainda é cedo. Queremos começar a lista de espera por lá”. Já na Argentina, onde a fintech também abriu um escritório no último semestre, o caminho deve ser mais demorado, uma vez que a startup está aguardando autorizações regulatórias para operar no país vizinho.
Fonte: Estadão