Duas semanas atrás, participei de uma mesa redonda sobre um assunto que me interessa muito: o que as pessoas na casa dos 50 e 60 anos deveriam fazer com suas carreiras, agora que todo mundo viverá para sempre.
Expressei a opinião, óbvia, de que todas as profissões deveriam começar a contratar pessoas de mais de 50 anos para seus cargos de entrada, treinando-as junto com os recém-formados.
Uma mulher na audiência levantou a mão e disse que a ideia era boa, mas que não funcionaria porque as pessoas mais velhas não têm a mesma energia dos jovens. Rebati delicadamente, quando isso aconteceu. Mas agora estou me sentindo menos delicada.
Dizer que uma pessoa de 55 anos (ou de 65 anos, aliás) não tem a mesma energia que uma pessoa de 25 anos, no expediente de trabalho, não só é um exemplo grosseiro de preconceito por idade mas quase certamente não procede. No entanto, quase todo mundo parece aceitar essa afirmação como fato.
Desde aquele dia, tenho perguntado às pessoas se elas acham que os profissionais na casa dos 50 anos têm menos energia que trabalhadores três décadas mais jovens. Sim, quase todas elas respondem. Mas quando fiz a mesma pergunta a alguns poucos colegas com mais de 50 anos de idade que consegui encontrar no “Financial Times”, querendo saber se a resposta se aplicava a eles, todos responderam a mesma coisa: não.
A ciência nos diz que nossos corpos estão no pico de sua força física pouco antes dos 30 anos de idade, e que enfraquecemos depois disso. Mas não é essa a questão, a não ser que a pessoa esteja planejando uma nova carreira como lenhador ou mineiro, porque a maior parte dos empregos está longe de requerer toda a nossa força física.
De fato, se faz algum sentido falar sobre décadas em que somos mais enérgicos, ou menos, o ponto mais baixo não é os 50 ou os 60 anos, mas os 30.
Esse é o período em que a maioria dos profissionais liberais se dedica à reprodução, que é a coisa mais exaustiva que pessoas comuns costumam fazer. Dos 30 anos ao começo dos 40, eu vivia tão cansada que, embora precisasse encontrar energia para o trabalho, ao tentar recordar não sei bem o que fiz. O processo todo desapareceu da minha memória.
Além disso, as pessoas na casa dos 20 anos nem sempre aplicam energia inesgotável ao trabalho. É possível que eles tenham a biologia ao seu favor, mas arruínam a coisa porque se dedicam demais à diversão. Para muitas delas, uma noitada padrão na sexta-feira ou sábado envolve ficar na rua até quase o amanhecer, consumindo quantidades imodestas de substâncias legais e ilegais.
Quando o final de semana termina, elas estão mais cansadas do que estavam quando ele começou.
Em contraste, uma pessoa mais velha aparece para trabalhar na manhã da segunda-feira se sentindo repousada, depois de um final de semana de jardinagem e de sono na hora certa.
Aos 50 e 60 anos, com a vida noturna e os cuidados com os filhos já encerrados, parece plausível presumir que o nível de energia das pessoas seja mais alto. A maioria dos meus contemporâneos come melhor e se exercita mais hoje do que fazia há 30 anos. Precisamos de menos sono, e mesmo que algumas leis da biologia estejam se voltando contra nós, aprendemos a empregar os nossos recursos limitados da melhor maneira possível.
E ainda mais importantes que as diferenças físicas entre as décadas são as diferenças de personalidade. Algumas pessoas na casa dos 20 anos são muito ativas, mas outras dormem até meio-dia e depois passam a tarde no sofá, cansadas demais para fazer serviços de menino, como levar o lixo para fora.
Mesmo aos 95 anos, quando a maioria dos seres humanos já terá deixado para trás o fardo da existência, há quem continue firme. O príncipe Philip, depois de trabalhar pesado durante as últimas sete décadas inaugurando monumentos em todo o mundo, acaba de declarar que é hora de parar.
Para a maioria das pessoas, quer tenham 20 e poucos anos, quer já tenham passado dos 90, a energia no trabalho varia a depender do que estejam fazendo. Isso não é função da idade ou personalidade, mas de estímulo. Quanto mais ocupado e interessado você estiver, mais energia terá.
Depois de um dia de trabalho freneticamente ativo, no qual eu tenha feito coisas empolgantes e interessantes, pedalo para casa em ritmo acelerado. Depois de um dia no qual eu tenha perdido tempo, me sentido entediada ou ficado empacada em reuniões, me sinto tão cansada que mal consigo contemplar a ideia de um passeio curto de bicicleta.
Isso pode explicar por que algumas pessoas se arrastam o dia todo no trabalho, parecendo mortas. Não é por terem mais de 50 anos, mas por não verem mais motivos de empolgação no trabalho. Elas estão simplesmente fazendo a mesma coisa há tempo demais. Fonte: Folha SP