Enquanto você está acessando conteúdo na internet, uma infinidade de algoritmos está coletando seus dados para diferentes finalidades. Não somente publicitárias. O internauta pode ter seu cartão roubado, por exemplo, ou simplesmente ter identidade pirateada.
No caso de instituições ou organismos públicos, a atuação secreta do exército do “deep web”, ou internet invisível, pode até mesmo influenciar resultados das eleições, como foi o caso de Donald Trump, nos Estados Unidos. A Rússia foi acusada de ter orquestrado ataques piratas que resultaram na publicação de emails de responsáveis do partido Democrata, incluindo, Hillary Clinton, o que poderia ter influenciado o voto do eleitorado.
A verdade é que o mundo virtual encanta pela sua praticidade, mas deixa a desejar no quesito privacidade. Os mais conectados dirão que há bons programas que protegem celulares, tablets e computadores, mas nada que um bom hacker não seja capaz de “quebrar”.
Não por muito tempo: os cientistas estão dando os primeiros passos no desenvolvimento de uma rede mais segura, conhecida como internet quântica. Nesse modelo, os dados seriam armazenados em partículas de luz conhecidas como fotóns, em vez dos atuais feixes de luz da fibra ótica, tornando impossível qualquer invasão. O fóton é a partícula elementar mediadora da força eletromagnética, utilizada nos ímãs, por exemplo.
TELETRANSPORTE QUÂNTICO
Em outubro de 2016, os cientistas do Jet Propulsion Laboratory, da Nasa, realizaram uma experiência que, dada sua complexidade, foi pouco divulgada, mas representa um grande passo na construção da internet hiper segura. Eles conseguiram realizar o teletransporte quântico de um fóton em uma distância de mais de 6 km.
O experimento foi realizado em um cabo de fibra ótica inutilizado da cidade de Calgary, no Canadá, com o apoio dos pesquisadores da universidade local. Esta é a primeira vez que um fóton percorre uma distância tão longa e fora de um laboratório de pesquisas.
Diversos ajustes foram necessários para recriar a experiência do teletransporte dos fótons na vida real, segundo a Nasa. “Isso é muito importante porque é uma das primeiras experiências do mundo real do teletransporte, um modelo para o futuro da rede quântica, para distribuir informação quântica”, descreveu o cientista da Nasa Francis Marsili, em entrevista à RFI Brasil.
Ele foi um dos responsáveis pela construção da plataforma de supercondutores utilizados na experiência. “Nós os chamamos de nanowires. Basicamente, eles são de metal, muito finos e estreitos. A propriedade da supercondutividade é a seguinte: se a temperatura cai a níveis críticos, a resistência do metal chega a zero. Pense em uma lâmpada incandescente. Ela emite luz porque os filamentos, feitos de tungstênio, têm resistência e a corrente elétrica que a atravessa. A temperatura do filamento aumenta, até a lâmpada acender”, explica.
Na experiência realizada pela Nasa, a máquina construída utiliza esse princípio. O tungstênio se torna supercondutor a temperaturas extremamente frias. Dessa forma, o metal não terá mais resistência e os filamentos circularão livremente, atingindo os fótons, que vão “ligar” o sistema, através do chamado “entrelaçamento quântico”. As partículas se misturam e se tornam inseparáveis.
INTERNET SEGURA
Depois do fenômeno, os objetos se tornam fisicamente interdependentes entre si e não podem ser separados —o que garante a segurança dos dados que circulariam na Internet Quântica. Os elementos não poderiam ser decodificados, como acontece hoje.
Por enquanto, os experimentos estão no início, mas para aumentar a distância da troca de informações ultra-segura, a Nasa também trabalha no desenvolvimento de “repetidores quânticos”. “Essa é uma das primeiras demonstrações do teletransporte quântico em fibras óticas usadas pela Internet”, explica Marsili. Ficção científica que pode se tornar realidade nas próximas gerações.
Fonte: Folha de São Paulo