A Universidade Federal de Itajubá (Unifei), no Sul de Minas Gerais, vai ganhar, em breve, um Centro de Hidrogênio Verde (CH2V) para testar a aplicação do hidrogênio verde na indústria. O laboratório, que está sendo implantado mediante aportes de 5 milhões de euros, a partir do projeto H2Brasil, que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, promete auxiliar empresas, especialmente as mineiras, na adoção do combustível limpo em seus processos produtivos.
Os investimentos compreendem a implementação do CH2V, incluindo a construção do espaço físico e a compra dos equipamentos necessários para a geração do combustível limpo. A partir daí, parcerias com a iniciativa privada é que garantirão a execução efetiva dos testes. Empresas de dentro e de fora do Estado, como Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), grupo Stellantis (Fiat) e grupo Ammagi já estão confirmadas entre as que integrarão e financiarão o projeto.
Para isso, o CH2V contará com uma unidade de produção por eletrólise, armazenamento e abastecimento veicular de hidrogênio verde livre de emissões de CO2, em escala e condições que permitam operá-la como laboratório para pesquisa, desenvolvimento e demonstração da produção e uso do hidrogênio. O centro cobrirá os aspectos básicos como controle, medição, proteção e segurança na produção, logística e uso final, bem como as aplicações de maior potencial no âmbito da mobilidade, geração de energia e usos industriais para o abastecimento de veículos.
De acordo com o reitor da Unifei, Edson da Costa Bortoni, os testes serão voltados para a aplicação do hidrogênio verde nos setores de mobilidade urbana, geração e armazenamento de energia, produção de fertilizantes e de aço verde. O fornecimento para órgãos governamentais, no futuro, também está nos planos.
“Nosso trabalho será focado na ajuda às indústrias, especialmente as mineiras, quanto à transição energética. A partir do momento em que nossas indústrias migrarem efetivamente de modelos produtivos abastecidos por combustíveis fósseis para fontes limpas, como é o hidrogênio, com uma menor pegada de carbono, nossos produtos passarão a ter maior valor agregado e aumentaremos nossa competitividade”, explica.
Ainda conforme o reitor, as obras de edificação do laboratório estão em curso e o mesmo deve entrar em operação até o fim de 2023.
Além disso, a expectativa é que o CH2V se torne referência nacional em produção- piloto de hidrogênio verde. Também está prevista, inicialmente, a inserção nos cursos de graduação, pós-graduação e especialização disciplinas com foco no hidrogênio verde, promovendo a geração de conhecimento, troca de experiências, treinamento e qualificação profissional na área.
E com a consolidação deste polo tecnológico, a parceria pretende ampliar as descobertas para além da universidade, permitindo o intercâmbio de conhecimentos com outras instituições de ensino e integrando atores dos setores público e privado.
Sistemas de geração de hidrogênio verde estão sendo fabricados em Belo Horizonte
A empresa alemã Neuman & Esser (NEA) e sua subsidiária Hytron – Energia e Gases – são as responsáveis por fornecer os equipamentos da planta-piloto da Unifei. Segundo o diretor-geral da empresa, Marcelo Veneroso, os equipamentos serão fabricados na planta mineira, localizada no bairro Olhos D’água, na região do Barreiro, em Belo Horizonte.
“Comercializamos o sistema para a alemã GIZ, que, por meio do projeto H2Brasil do governo federal, está financiando a implementação do laboratório na Unifei. É o que há de mais moderno para a geração de hidrogênio verde no mundo, uma vez que utiliza a tecnologia PEM, proporcionando o melhor custo benefício. É uma inovação no mercado brasileiro e algo similar ao que vemos nos mercados europeu e americano”, revela.
Além do sistema que vai ser instalado na universidade em Itajubá, Veneroso conta que a NEA também já vendeu outros três para empresas nacionais, porém, os contratos ainda estão sob cláusulas de confidencialidade. São companhias dos setores de energia, óleo e gás, e agroindustrial.
“Os sistemas integrarão projetos pilotos dessas empresas que, se aprovarem os modelos, farão encomendas maiores”, diz.
Ainda conforme o empresário, os negócios têm sido possíveis a partir do investimento de até R$ 45 milhões que a empresa está fazendo na planta mineira.O projeto prevê que, mais do que fabricar os equipamentos, a unidade exporte a tecnologia utilizada na fabricação dos equipamentos para as empresas da Alemanha, Estados Unidos e Ásia.
Projeto H2Brasil
O projeto H2Brasil integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e pelo Ministério de Minas e Energia (MME) com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
Convertendo para reais, com recursos de quase R$ 25 milhões, a iniciativa leva à Unifei a infraestrutura necessária para a realização de pesquisas experimentais em economia verde.
O objetivo principal do H2Brasil é apoiar a expansão do mercado de hidrogênio verde no País, por meio de fomento à pesquisa, troca de informações entre universidades brasileiras e alemãs, promoção de projetos de inovação e novas tecnologias, estudos de certificação e regulamentação com foco no H2V e promoção de cursos de capacitação profissional.
De acordo com um dos coordenadores do projeto H2Brasil, Marcos Oliveira, a GIZ, como empresa federal de utilidade pública, apoia o governo da Alemanha em seus objetivos, mediante a execução de projetos de cooperação técnica em mais de 80 países.
“A parceria com o Brasil possui mais de 60 anos e, atualmente, os dois países enfrentam os desafios ambientais globais por meio de ações para a preservação da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas com o propósito de reduzir as emissões de gás carbônico. Nesse sentido, o conjunto de ações no âmbito dessa cooperação, como o Centro de Hidrogênio Verde, fortalece os objetivos dos dois países para promover uma economia de baixo carbono”, avalia.
Fonte: Diário do Comércio