O Brasil é o único país que possui robusto e variado recurso energético renovável auto-sustentável. Dispõe de um potencial bruto de geração eólica de cerca de 140 GW (Giga-Watt), além de um potencial hidroelétrico de cerca de 180 GW. Para comparação, a potência instalada da Usina Hidrelétrica de Itaipu é de 16 GW. A energia solar média anual incidente por metro quadrado no Brasil é quase o dobro da incidente na Alemanha. Agregado a este formidável recurso natural, o país dispõe de 180 milhões de hectares de pastagens próprias ao plantio de cana-de-açúcar. Estima-se que não mais que 6% dessa área seriam suficientes para suprir energia a toda a frota veicular nacional. Tecnologias de gaseificação e de hidrólise do bagaço de cana e leveduras modificadas podem resultar na redução da área plantada e aumentar a produtividade.
A expansão do crescimento do parque produtivo de etanol para 2016 poderá agregar à matriz energética cerca de 16 GW por meio de cogeração, com tecnologias inteiramente nacionais. Mesmo que o Brasil crescesse a ritmo chinês, teríamos recursos renováveis para suprir toda a demanda projetada de energia elétrica nacional. Neste cenário, os aquecedores solares produzidos no Brasil ainda poderiam contribuir para reduzir o pico de demanda decorrente do uso intensivo dos chuveiros elétricos, que atinge cerca de um quarto da potência de Itaipu.
É consenso mundial que a geração termo-solar configura-se como competitiva, em comparação à geração nuclear, que é intensamente subsidiada pelos governos nacionais. O Brasil não deve aos interlocutores de países ricos satisfação quanto ao impacto da geração de energia sobre o meio ambiente. Aqueles que já estão realizando o Brasil sustentável podem muito bem fazê-lo, dispensando até mesmo os discursos de gurus regiamente pagos, inclusive com recursos dos contribuintes brasileiros.
Sergio Colle – Professor no Departamento de Engenharia Mecânica da Ufsc