No comando da BR Distribuidora desde março, Wilson Ferreira Junior acaba de coordenar o processo histórico de saída da Petrobras da empresa e já mira a transição energética.
Em entrevista ao GLOBO, o executivo, que trocou a Eletrobras pela BR no início do ano, afirma que a empresa vai promover leilões de energia — assim como faz o governo — para comercializar eletricidade a partir de fontes renováveis aos grandes clientes. Já nos postos, está de olho nos carros elétricos.
Sobre o reajuste dos combustíveis pela Petrobras, ele revela que a BR tem aumentado a compra de derivados no exterior. E descarta a participação da empresa na compra de refinarias à venda pela estatal.
Confira os principais trechos da conversa a seguir.
Sem a Petrobras, o que esperar da BR?
Apesar de ter um movimento de redução de custos e aumento de geração de caixa, adicionamos 240 postos de gasolina no ano passado (chegando a 8.058 postos).
Crescemos nosso market share em 2,4 pontos (para 28,1%). São números que vamos aumentar. Há ainda um compromisso de estimular uma agenda ambiental, social e de governança
Eu estive com mais de 300 investidores em duas semanas. O follow on (venda de ações) gerou quase duas vezes e meia o número de ofertas. É com essa agenda ambiental que queremos transformar essa grande empresa em uma empresa grande.
Além dos 30 milhões de consumidores mensais, temos mais de 15 mil clientes de grande porte. Vendemos combustível de aviação para as empresas aéreas, óleo combustível para as térmicas, óleo diesel para agronegócio.
Esse conjunto de consumidores vai ser objeto de uma conscientização ambiental e terá de fazer uma transição energética. E queremos ter as opções para que eles façam essa mudança.
Como fazer essa transição energética?
A energia elétrica é o combustível que vai suceder. Então, temos que ter capacidade de colocar no nosso cliente essa energia elétrica.
A mesma coisa é o GNL (gás em estado líquido). Hoje, 90% dos consumidores de grande porte do Brasil não estão ligados a uma rede de gás de distribuidora. Aqui temos essa capacidade, que é o que chamamos de gasoduto virtual, que é levar o GNL para essas empresas.
Mas que tipo de investimento a BR pretende fazer em energia renovável?
Para colocar energia elétrica na instalação de um consumidor de forma competitiva é preciso promover leilão de energia de longo prazo.
Nos leilões do governo, e tive essa discussão na Eletrobras antes de sair, há muitos projetos, porque as distribuidoras têm capacidade financeira para ter um contrato de longo prazo, mas nem todos são adquiridos nesses leilões. E a BR tem essa capacidade financeira.
A BR pode fazer esses leilões. Pode comprar essa energia e entregar a seus clientes. Nossa intenção é ser um promotor de leilões de energia renovável de longo prazo para alimentar nossos consumidores.
Mas como isso chegaria na ponta, ao consumidor?
As comercializadoras de energia são empresas pequenas. Elas precisam de uma capacidade financeira que dê lastro a esse compromisso. É o que a BR pode fazer.
Fiz uma live com todos os nossos revendedores há dois meses e meio, quando cheguei aqui. Já estamos oferecendo para nossos postos a possibilidade de serem atendidos com energia renovável. Já são 300.
Nossa ideia é que todos os nossos postos tenham energia renovável fruto desse tipo de iniciativa.
E, à medida que tenhamos evolução de mobilidade elétrica com os carregadores para os carros, a ideia é que possamos assegurar que esses clientes abastecendo seus automóveis tenham uma energia certificada renovável.
E aquisições nessa área estão no radar?
Assim que cheguei na BR contratei o Boston Consulting Group para fazer uma revisão estratégica da empresa. Como corporation (como são chamadas empresas com capital diluído em Bolsa, sem um controlador definido) teremos capacidade de ir ao mercado capturar parte dos recursos para custear essas aquisições, se houver oportunidade de grande porte. Mas temos geração de caixa na empresa.
A Petrobras acaba de elevar os preços dos combustíveis. Há alternativa para reduzir o valor?
A margem que fica para a BR e o revendedor é de R$ 0,10 por litro. A maior parte do ganho está ligado ao próprio combustível e aos impostos. A margem do revendedor e da distribuidora é muito baixa. Não é com essa margem que vai subir ou baixar o custo.
A BR é refém da Petrobras?
A BR é hoje a maior importadora de combustível do Brasil (o volume total importado no último ano foi de 3,469 milhões de metros cúbicos, cerca de 17% do volume total da BR). Mas a BR não fazia isso. No passado, ela comprava da Petrobras e, às vezes, perdia valor.
Por isso, é importante ter um preço comparado com a paridade internacional, e a Petrobras vem fazendo isso. E, mesmo não tendo vantagem, você faz como estratégia de diversificação. Todas as refinarias hoje não têm a capacidade de suprir todo o mercado brasileiro. E isso tende a aumentar, já que não temos refinarias em construção.
A empresa tem planos para comprar refinarias?
Não. Claro que estamos esperando a revisão da nossa estratégia, mas, como empresa compradora de combustível, temos poder de barganha maior com uma refinaria do que se tivermos uma.
Fonte: O Globo