Um aplicativo que reúne informações de segurança de barragens de mineração e de hidrelétricas foi lançado hoje (14) em Minas Gerais. Batizado de Prox, ele tem como objetivo dar conhecimento às comunidades do entorno sobre a situação dessas estruturas. Ao criar um canal de interação entre empresas, gestores municipais, bombeiros, profissionais da defesa civil e moradores das comunidades, o aplicativo tem como uma de suas funções a emissão de alertas em casos de rompimento, de enchentes e de incêndios.
A ferramenta foi criada em parceria pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), estatal mineira do setor energético, e pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade que representa as maiores mineradoras que atuam no país. O lançamento ocorreu em uma solenidade com a presença de poucas pessoas e transmissão pela internet.
De acordo com Paulo Mota Henriques, diretor de geração e transmissão da Cemig, o aplicativo funciona de forma colaborativa e permite a troca de dados em tempo real entre empresas, sociedade e órgãos públicos, promovendo a autoproteção e subsidiando políticas públicas voltadas para o fortalecimento do sistema de defesa civil. Também pode ser usado pra fins de pesquisa, já que terá informações atualizadas.
Além da gestão de risco, Herinques considera que a ferramenta contribui ainda para a sustentabilidade, o compartilhamento de boas práticas e a difusão de conhecimento. “Ainda teremos melhorias e novas funcionalidades”, afirma.
O aplicativo se torna mais uma tecnologia que busca contribuir para evitar tragédias em meio a um cenário preocupante. Sem declaração de estabilidade válida, 43 barragens estão interditadas no país pela Agência Nacional de Mineração (ANM), sendo 36 em Minas Gerais. O último processo de entrega do documento obrigatório para o funcionamento destas estruturas se encerrou em março. Em setembro, as mineradoras precisam apresentar uma nova declaração.
Atualmente, há no país três barragens em nível 3 de emergência, que significa risco iminente de ruptura conforme classificação da ANM. Todas estão situadas em Minas Gerais e sob a responsabilidade da Vale. Por terem sido construídas pelo método de alteamento a montante, elas estão incluídas no plano de descaracterização da mineradora
Esse método foi proibido após a tragédia de Brumadinho (MG), quando o rompimento de uma barragem da Vale em janeiro de 2019 deixou 270 mortos, causou devastação ambiental e destruiu comunidades. Outro desastre, ocorrido na cidade de Mariana (MG) em novembro de 2015, também envolveu uma estrutura alteada a montante. Sob responsabilidade da mineradora Samarco, ela se rompeu levando a vida de 19 pessoas e deixando centenas desabrigados.
Mônica Dietrich, superintendente de gestão do risco de desastres da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais, avalia que ainda há em Minas Gerais um déficit de educação para o risco do desastre. Ela vê o aplicativo como um aliado para mudar esse cenário, uma vez que a maioria das pessoas possuem celulares.
“Acreditamos que é um marco para a cultura de se conhecer o risco e saber o que fazer diante do risco. Defesa civil não é só resposta ao desastre. Temos ações de preparação e de mitigação que os municípios precisam levar a sério”, afirma. Ela lembra que as tragédias causam grandes prejuízos às cidades, que podem ser minimizados se houver uma educação para os desastres. “Se o município trabalhar a gestão desse risco, ele está na verdade contribuindo para a evolução econômica da região”.
Origens
O nome Prox faz referência ao programa Proximidade. Desenvolvido e implantado pela Cemig desde 2005, ele visa promover a integração com comunidades do entorno de hidrelétricas. Por meio da iniciativa, são organizadas diversas reuniões entre a estatal, lideranças locais e representantes do Corpo de Bombeiros e de órgãos municipais de defesa civil.
No âmbito do programa, já era usado um aplicativo que reunia informação dos reservatórios sob a gestão da Cemig. Foi essa experiência que deu forma à nova ferramenta, ampliando os dados para abarcar as barragens de mineração. Essa evolução do aplicativo também mobilizou o Mining Hub, iniciativa de inovação apoiada pelo Ibram para fomentar startups que sejam capazes de apresentar novas soluções para o setor mineral.
“O mundo moderno exige que, cada vez mais, possamos nos comunicar melhor, ser mais transparentes e dar àquelas pessoas que estão ao nosso redor o conforto, a segurança e as informações que elas necessitam para nos considerar parceiros”, avaliou o presidente do Conselho Diretor do Ibram, Wilson Brumer.
O coordenador operacional da Defesa Civil de Caratinga, João Henrique Vieira, já fazia uso da versão anterior do aplicativo restrita aos reservatórios da Cemig. Segundo dele, a ferramenta é eficaz. “Estamos cadastrando lojistas da cidade no aplicativo. A área comercial do nosso município está em uma região sujeita à inundação. Então o aplicativo nos ajuda a alertar esses lojistas”, conta Vieira, acrescentando que tecnologia tem recebido boa adesão dos comerciantes.
Fonte: Agência Brasil