Neste ano, independentemente da localidade, é impossível ler as notícias e não se deparar com uma matéria sobre anomalias no clima e suas consequências. Ondas de calor são sentidas nos dois hemisférios, em alguns casos com temperaturas jamais registradas para a época do ano. Incêndios, ciclones, secas, enchentes, chuva de granizo e baixa umidade afetam diferentes partes do planeta.
Apesar de estarmos enfrentando o El Niño, que é um fenômeno natural, a magnitude dessas anomalias é intensificada pelas mudanças climáticas induzidas pela ação humana. A rapidez dessas transformações não tem precedentes na história e representa um risco para todas as formas de vida na Terra.
A mudança climática é um dos maiores desafios para a saúde global neste século. As consequências para a saúde já são sentidas em várias partes do planeta e afetam crianças, adolescentes, adultos e idosos, ou seja, todo o ciclo de vida.
A saúde humana é impactada de diversas formas. A transmissão de cerca de 58% das doenças infecciosas conhecidas é vulnerável às mudanças no clima. Riscos de morbidade e mortalidade por doenças não transmissíveis e transtornos mentais também podem se elevar.
A poluição do ar agrava as mudanças climáticas e afeta a prevalência de asma e de doenças cardiovasculares e respiratórias. O calor extremo pode ser letal e será um dos futuros fatores determinantes das condições de sobrevivência humana em partes do planeta caso as metas do Acordo de Paris não sejam alcançadas.
Considerando apenas os eventos extremos, um Atlas publicado pela Organização Mundial de Meteorologia estima que entre 1970 e 2021 quase 12 mil desastres relacionados ao clima foram a causa de 2 milhões de mortes no mundo com uma perda econômica de 4,3 trilhões de dólares. Na América do Sul a perda foi de 115,2 bilhões de dólares, sendo 45% no Brasil.
Um relatório publicado na revista Lancet mostra que os efeitos das mudanças climáticas na saúde da população da América do Sul estão se agravando e afetando desproporcionalmente os mais vulneráveis. Apesar do cenário preocupante, há carência de planos detalhados de adaptação e investimento em ações para enfrentar as mudanças climáticas.
Parece óbvio que a saúde deveria estar no centro das conversas sobre o clima. Entretanto, a COP28, que começará no final de novembro nos Emirados Árabes Unidos, será a primeira a organizar um dia dedicado a saúde.
O foco na saúde é necessário! É preciso disseminar o que já se sabe, quantificar os efeitos ainda não mensurados e mobilizar governo e sociedade civil na busca por medidas de mitigação e adaptação.
Fonte: Folha de São Paulo