Embora o governo brasileiro emita sinais contraditórios sobre sua política ambiental, o país ainda é visto pela comunidade internacional como essencial na luta contra o aquecimento global. É o que diz Andres Landerretche, coordenador da Presidência da COP25, conferência climática das Nações Unidas que ocorre em dezembro, no Chile, após o Brasil desistir de sediar o evento.
“O Brasil é parte da solução, não do problema. É inviável pensar em uma solução sem que o Brasil seja parte dela”, afirma o chileno, que foi à Costa Rica para participar da Pré-COP, evento preparatório da conferência de dezembro.
À frente da COP25, Landerretche se esforçará para que o Brasil continue sendo um ator importante no debate, como foi nas conferências anteriores. “Vamos apelar até o último minuto para entender qual é o problema, tentar chegar a uma solução de consenso para o Brasil, mas que também nos permita avançar”, diz ao Correio.
O Brasil anunciou que não sediaria mais a COP25 em novembro de 2018, quando o presidente era Michel Temer e Jair Bolsonaro havia sido eleito. Os argumentos foram “dificuldades orçamentárias”.
Foi então que o Chile se candidatou, o que, na visão de Landerretche, foi benéfico ao país vizinho: “O Brasil tirou sua candidatura por questões de política nacional. Então conversamos e pensamos que esta é uma grande oportunidade para avançar com os temas sustentáveis em todo o país [Chile]”.
“Vida ou morte”
A pré-COP foi iniciada nesta terça-feira (8/10) com representantes de governos de todo o mundo, que já se debruçam sobre os temas que, mais tarde, virarão acordos firmados entre os chefes de Estado, incluindo, por exemplo, a agenda de cooperação entre a União Europeia e a América Latina.
Nos corredores do evento, o tom é de urgência. “Enfrentamos ações climáticas inéditas”, analisa Joseluis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos (DDSAH) da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Na visão do especialista, é imprescindível que países de todo o globo se reúnam para discutir os novos modelos de gestão, principalmente na questão do transporte e consumo de energia, e que comecem a ter projetos práticos para diminuir as emissões de carbono. “As ações têm benefícios além da luta contra as mudanças climáticas: também trazem a introdução de energias renováveis e eletromobilidade no transporte público”, aponta.
Esta é a primeira vez que a pré-COP ocorre em um país diferente do que sediará o evento central. A expectativa é que mais de mil pessoas compareçam às discussões ao longo desta semana. Para a vice-ministra das Relações Exteriores da Costa Rica, Lorena Aguilar, o trabalho feito ali lida com uma questão de “vida ou morte”.
“Não podemos esperar mais. Temos que fazer as implementações do que acordamos. Mudança climática, energia, mudança na agricultura, tecnologia, financiamento ecológico. Este é o marco”, ressalta. “Não podemos fazer as coisas como fazíamos antes. Não podemos seguir queimando petróleo. Temos que mudar toda a nossa maneira de ser”, completa.
Inclusão em debate
Outra diferença desta pré-COP, indica Aguilar, é a ampliação dos temas debatidos. Uma preocupação dos organizadores é pensar como o desafio ambiental impacta questões de gênero, direitos humanos e populações em situação de vulnerabilidade, como os povos indígenas.
“Este evento abraça o tema da inclusão. Não há tempo a perder. Esta é uma pré-COP não convencional porque abarcamos os direitos humanos, o direito à participação, o direito a decidir e também o direito a ser informado. Não só o tema da energia que é fundamental e importante”, acrescenta.
Fonte: Correio Braziliense