Outro ponto de interrogação para a continuidade da obra da Hercílio Luz é a definição do plano de mobilidade. O Ipuf (Instituto do Patrimônio Urbano de Florianópolis) pretende entregar o projeto de tráfego até novembro para o Estado, que vai executar a parte final da obra contemplando o plano de mobilidade proposto pela prefeitura. “Vamos fazer seminários e discutir com todos os envolvidos”, diz o diretor do Ipuf Michel Mittmann. Se não houver consenso ou se o plano demorar para ser aprovado, serão necessários mais tempo e mais dinheiro. Segundo os dados do Portal de Transparência, nos últimos quatro anos quase meio bilhão de reais já foi consumido dos cofres públicos com a Hercílio Luz. A média é de R$ 108 milhões por ano. A cada dia, são gastos R$ 296 mil na reforma. A cada hora que os transeuntes olham pasmos para a estrutura, R$ 12 mil estão sendo gastos.
Longo caminho para a mobilidade
A capital de Santa Catarina é uma ilha difícil de trafegar. O transporte individual impera e o trânsito, emperra. Especialmente no verão quando os turistas chegam para curtir a praia e acabam compartilhando do caos nas vias da cidade. Mobilidade urbana é responsabilidade do município, mas quando se trata de integração com a região metropolitana, a tarefa envolve o Estado. Só que o Estado tem gasto todas as energias num único trabalho: a conservação das três pontes, sendo que uma está interditada e as outras duas estão sem previsão de manutenção. Por que Florianópolis não tem transporte marítimo entre a capital e a região metropolitana? “Não adianta concentrar todos os esforços nas pontes, pois os congestionamentos continuam desembocando nos mesmos lugares. O certo seria ter transporte que saísse do norte, do sul da ilha e largasse em outros pontos do continente”, diz o doutor em engenharia de transportes, José Lelis Souza. Ele complementa indicando que o Estado deveria trabalhar de maneira integrada com a prefeitura para diversificar as formas de mobilidade. “Mudar esse cenário depende de decisão e articulação política do próximo governador”, diz. Ligar a capital ao continente através de transporte público integrado é outro desafio. O plano é antigo, mas uma série de entraves tranca o processo. Primeiro, a Suderf (Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis) precisa ser autorizada pela Alesc a realizar a licitação. Na sequência, um termo de cooperação entre o Estado e os municípios precisa ser aprovado nas câmaras de vereadores das oito cidades atingidas. Mas essa discussão promete ser polêmica porque há pressão das empresas de ônibus que já têm os contratos assinados com as prefeituras e não querem perder o posto. Mesmo depois de todo esse processo, Florianópolis ainda não estaria integrada com os municípios, pois o projeto da Suderf prevê integrar a capital numa nova etapa. Esse imbróglio dá algumas pistas do porquê ainda não existe um sistema de ônibus integrado para atender os moradores da capital e região metropolitana. O professor Werner Kraus Jr., do Observatório de Mobilidade da UFSC, diz que o transporte público precisa ser valorizado para melhorar a mobilidade. “A ponte Hercílio Luz deveria ser liberada apenas para ônibus. Das 6h da manhã até às 9h mais de 600 ônibus se deslocam entre a capital e região metropolitana. Os veículos coletivos devem ser priorizados”, afirma.