Uma greve de 72 horas convocada por sindicatos de trabalhadores da Eletrobras tem como “maior risco” para a companhia a exigência da categoria de que o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Jr., entregue o cargo, avaliaram analistas da corretora Brasil Plural nesta segunda-feira (11).
A paralisação iniciada nesta segunda, em protesto também contra os planos do governo de privatizar a Eletrobras, lembrou um movimento dos petroleiros recente, no qual sindicatos pediram a demissão do então presidente da Petrobras, Pedro Parente, além de mudanças na política de preços da estatal.
A Petrobras conseguiu na época que a greve fosse considerada ilegal, por causa da pauta dos sindicatos, considerada política, mas o TST (Tribunal Superior do Trabalho) negou um pedido da Eletrobras e subsidiárias da companhia para definir como abusiva a paralisação.
Os analistas da Brasil Plural, no entanto, consideraram que o protesto dos eletricitários “tem espaço limitado para influenciar no cenário político, o que impede uma insatisfação generalizada com a empresa e o seu presidente”.
Na Petrobras, por exemplo, a vitória da companhia sobre a greve não foi suficiente para impedir que Parente entregasse o cargo pouco depois, em meio a pressões crescentes contra sua política para os preços dos combustíveis.
“Apesar dos riscos intrínsecos, por enquanto nossos analistas estão céticos em relação a uma possível substituição (no comando da Eletrobras)”, afirmaram em nota os especialistas da Brasil Plural.
Segundo fontes da Eletrobras, Ferreira está “incomodado” com campanha contra ele, mas tem dito a pessoas próximas que não pretende deixar o cargo.
Se depender exclusivamente dele, ele não cederá às pressões e ficará no comando da Eletrobras, afirmou uma das fontes, que falou sob a condição de anonimato.
Ferreira, que antes presidiu a privada CPFL Energia e chegou à Eletrobras em julho de 2016, é bem avaliado por especialistas e pelo mercado por seu plano de reestruturação da companhia, que inclui vendas de ativos para reduzir dívidas.
Mas ele é alvo de protestos de sindicalistas por causa das propostas de privatização e outras polêmicas, como uma ocasião em que se referiu a parte dos funcionários como vagabundos.
O executivo posteriormente pediu desculpas em um vídeo interno, mas o episódio é sempre lembrado pelos sindicatos nas paralisações e em publicações internas.
A Eletrobras tentou qualificar a greve como abusiva na Justiça trabalhista.
O TST, porém, entendeu que o movimento é legítimo porque está vinculado a “interesses econômicos, sociais e profissionais dos trabalhadores”.
O tribunal determinou apenas que sejam mantidos em serviço 75% dos empregados em cada uma das subsidiárias da Eletrobras durante a greve dos eletricitários.
A paralisação na estatal vem em um momento em que o governo do presidente Michel Temer vê quase naufragados seus planos de privatização para a companhia.
O projeto de lei sobre o tema não avança na Câmara.
Fonte: Folha SP