A cada duas semanas, Jo Johnson, 54, gerente de projetos de mídia digital na Filadélfia, guarda um terço de seu salário em uma conta de aposentadoria, para aumentar a contribuição feita por seu patrão. A parcimônia dela é resultado da necessidade.
Johnson saltou de emprego a emprego. As contribuições irregulares ao seu plano de pensão significam que a aposentadoria que a aguarda parece muito mais magra do que ela teria preferido. Isso a estimulou a adotar uma abordagem que privilegia a poupança, três anos atrás. Seu marido, o consultor Andrew Marshall, tem boa renda, mas diz ela: “Quando olho para os números, me assusto um pouco.”
“Estamos nos saindo muito bem, mas ainda estamos recuperando o atraso. Estamos sendo o mais frugais que conseguimos”, ela diz. “Nosso plano de aposentadoria foi simplesmente montado de improviso ao longo dos anos.”
O moderno sistema de pensões dos Estados Unidos foi criado quando as pessoas tendiam a trabalhar em uma profissão ou para uma só empresa pela vida toda. Mas uma mistura de desemprego, emprego de tempo parcial ou trabalho autônomo se tornou a norma hoje, e a situação precária de Johnson, com suas contribuições esporádicas, agora é cada vez mais comum. Pior: muitos americanos não têm contas de aposentadoria, o que prepara o cenário para uma crise social quando eles se aposentarem perto da penúria.
Os números são severos. De acordo com o Instituto Nacional de Segurança na Aposentadoria dos EUA, quase 40 milhões de domicílios com pessoas em idade de trabalho —ou seja, 45% do total— não tinham qualquer conta de aposentadoria em 2013, nem o plano 401 patrocinado por um empregador nem uma conta de previdência privada de aposentadoria individual (IRA, na sigla em inglês).
O GRANDE PROBLEMA
O setor de pensões recentemente vem se concentrando no impacto negativo do baixo rendimento dos títulos de investimento e nas expectativas modestas de retorno dos planos públicos de pensões com “benefícios definidos” e nos planos individuais de “contribuição definida”, como o sistema 401 dos Estados Unidos. Mas a verdadeira crise da aposentadoria que está começando a fervilhar para os americanos está no grande número de pessoas que não têm dinheiro algum guardado, argumenta David Hunt, presidente-executivo da PGIM, a divisão de administração de patrimônio da Prudential Financial.
“Se você está procurando o verdadeiro buraco negro do sistema de pensões, é esse”, ele diz. “E estamos falando das pessoas mais vulneráveis em nossa sociedade.”
De fato, embora seja menos provável que as pessoas mais jovens tenham economias para aposentadoria, quando comparadas aos americanos mais velhos, o fator mais importante é a renda. Os domicílios que dispõem de conta de aposentadoria têm renda média de US$ 86.235, enquanto os que não a tem apresentam renda média de US$ 35.509, de acordo com o Instituto Nacional de Segurança na Aposentadoria.
Muitas dessas pessoas são trabalhadores autônomos ou funcionários de empresas menores, que em muitos casos não têm porte suficiente para organizar um plano 401. Grandes empresas em setores de baixos salários também apresentam menor probabilidade de oferecer um plano de aposentadoria. E com salários modestos, se torna mais difícil guardar dinheiro para uma IRA.
“Temos uma crise em curso aqui”, disse Russ Kamp, consultor de aposentadorias. “Estamos pedindo às pessoas que guardem recursos preciosos de que não dispõem… Para milhões e milhões de americanos, a única coisa que eles terão será a Previdência Social.”
ORIGEM E PREVISÕES
A Previdência Social é um sistema federal criado originalmente pelo presidente Franklin Delano Roosevelt em 1935 e financiado por meio de contribuições sobre as folhas de pagamento. Somada ao programa de Renda Suplementar de Segurança, ela responde por 90% da renda para os 25% mais pobres dos aposentados dos Estados Unidos, de acordo com o Instituto Nacional de Segurança na Aposentadoria.
Mas a Previdência Social só banca cerca de 35% da renda típica de um domicílio antes da aposentadoria. Isso é inadequado para a maioria dos aposentados, especialmente para aqueles que não têm outras economias com que contar. “Porque a Previdência Social é tão limitada, dependemos mais dos planos 401”, aponta Hunt. “Em uma era na qual as pessoas trocam de emprego com mais frequência e fazem trabalhos do tipo ‘frila’, esse é um grande desafio”.
E a Previdência Social vem sofrendo críticas políticas nos últimos anos, em seu papel como amparo. Quando ela foi estabelecida, os trabalhadores em média precisavam ser sustentados por menos de 13 anos. Hoje em dia, um americano típico receberá aposentadoria da Previdência Social por quase duas décadas e, ao contrário dos sistemas tradicionais de pensão do setor público, ela opera em um regime de repartição simples [ou seja, um sistema no qual as contribuições de pessoas atualmente empregadas bancam as pensões dos já aposentados]. Há alguns meses, o Citi estimou o passivo não custeado do sistema em mais de US$ 10 trilhões, o que será um peso para as finanças do governo durante décadas.
Mesmo assim, dada a importância da Previdência Social para os aposentados mais pobres, é mais importante reforçar os recursos do programa do que reduzi-los, a fim de prevenir um amplo empobrecimento da população mais velha, argumentou o Instituto Nacional de Segurança na Aposentadoria em um relatório lançado este ano. Os dois candidatos à presidência indicaram que protegeriam a Previdência Social contra cortes, mas sem um reforço significativo dos fundos muitos norte-americanos enfrentarão uma aposentadoria triste.
“Quando as pessoas dizem que não há crise, pergunto se já olharam os números”, diz Diane Oakley, diretora-executiva do Instituto Nacional de Segurança na Aposentadoria. Ela prevê que os índices de pobreza entre os mais velhos crescerão acentuadamente nos próximos anos, causando deslocamento social.
“Venho de uma família em que as mães viviam com os filhos na velhice. Não tenho filhos, mas estou sendo muito boazinha com as minhas sobrinhas e sobrinhos”, ela diz.
Fonte: Folha Online