O secretário da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, afirmou nesta quinta-feira, 6, que a transição para energia limpa é “imparável” e que países que recuarem terão o seu lugar tomado por outros.
Stiell participou de uma reunião com o presidente da COP-30, André Corrêa do Lago, no Instituto Rio Branco, em Brasília. Durante o discurso, o secretário da ONU falou sobre os desafios da conferência deste ano, como a obtenção de metas ousadas para redução de emissões de gases de efeito estufa e do desenvolvimento de mecanismos para financiamento climático.
“A mudança para a energia limpa agora é imparável: por causa da escala colossal de oportunidade econômica que ela apresenta”, disse.
Em seguida, Stiell afirmou que países que não se comprometerem com esse processo serão deixados para trás. “Um país pode recuar, mas outros já estão se posicionando para tomar o seu lugar e colher as enormes recompensas: crescimento econômico mais forte, mais empregos, menos poluição e custos de saúde muito mais baixos, energia mais segura e acessível.”
Recentemente, após a posse do presidente Donald Trump, os Estados Unidos deixaram o Acordo de Paris. Além disso, o governo norte-americano anunciou a suspensão do financiamento à UNFCCC. Diante da medida, o bilionário Michael Bloomberg anunciou que sua fundação repassará recursos ao órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudança climática.
Em seu discurso, Stiell cobrou que os países se dediquem a construir suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs na sigla em inglês) e entreguem suas metas até setembro. Neste ano, a conferência em Belém deve revisar o que foi feito pelos países a partir do acordo feito em 2015, em Paris. Nesse sentido, as nações assumirão novas metas para redução de emissões e outras medidas que atendam ao objetivo de manter a temperatura global ao limite de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
‘Financiamento não é caridade’
Além de fazer uma cobrança sobre a entrega das NDCs, o secretário da ONU para mudanças climáticas afirmou falou sobre financiamento climático, que tem sido uma questão espinhosa nas COPs.
Durante a COP-29, no ano passado, em Baku, no Azerbaijão, os países se comprometeram com a nova meta de financiar US$ 300 bilhões até 2035 para que países em desenvolvimento combatam as mudanças climáticas. O valor é bem aquém da estimativa de valor que essas nações precisam: US$ 1,3 trilhão.
“Sejamos claros, o financiamento climático não é caridade”, disse Stiell, admitindo que o valor acordado não resolve o problema: “A nova meta global de financiamento climático que concordamos em Baku foi um importante passo à frente. Claramente, não atenderá a todas as necessidades inicialmente. Mas US$ 300 bilhões são uma linha de base, não uma linha final.”
Segundo ele, o financiamento climático é fundamental inclusive para combater os altos preços dos alimentos, uma vez que é preciso proteger as cadeias de suprimento dos desastres climáticos. Stiell argumentou que, por isso, a ação climática “é cada vez mais uma questão das mesas da cozinha”.
Nesse sentido, disse acreditar no sucesso do Brasil em promover essa discussão na COP-30 e que está interessado em questões práticas, no sentido de definir quem fará o quê, quando e com quais ferramentas.
“A profunda experiência e habilidade do Brasil são motivo de real confiança de que este ano se traduzirá em uma série de acordos do mundo real em todos os setores que podem nos levar adiante”, disse. “O Brasil tem um histórico de colocar questões de mesa de cozinha em primeiro plano.”
‘COP-30 será em Belém’
Após o discurso, o secretário respondeu algumas perguntas da nova turma de diplomatas do Itamaraty e de jornalistas. Na ocasião, questionado sobre a possibilidade de a rodada de chefes de Estado da COP-30 ocorrer fora de Belém devido às dificuldades que têm sido relatadas em relação à infraestrutura da cidade, Stiell foi taxativo: “A COP será sediada em Belém”.
Stiell também foi questionado diretamente sobre o impacto da saída dos Estados Unidos das negociações climáticas, mas tergiversou e disse que olhando para cada país é possível identificar avanços apesar da retórica sobre as nações que querem recuar nesse tema. Sobre o Acordo de Paris, ele afirmou que há uma distância entre o que precisa ser feito e o que está sendo feito de fato.
Questionado sobre o fato de o Brasil adotar um discurso a favor da transição energética, mas querer explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, Stiell citou os exemplos de outros países petroleiros que presidiram as duas últimas COPs (nos Emirados Árabes Unidos e no Azerbaijão) e afirmou que é preciso olhar para além das contradições é preciso ver os resultados. O secretário fez uma alusão ao fato de o acordo final celebrado em Dubai, em 2023, ter mencionado pela primeira vez a transição rumo ao fim dos combustíveis fósseis, e também à nova meta de financiamento acordada em Baku.
Fonte: Estadão