Com a severa seca reduzindo os reservatórios das hidrelétricas, o retorno do horário de verão no Brasil voltou a ser abordado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que definiu a mudança como uma “realidade muito premente” nesta segunda-feira (16).
Em entrevista à rádio Itatiaia, ele explicou que, diante da escassez hídrica e também da queda da geração solar e eólica no que chamou de “momento de pico” de consumo, entre 18h e 20h, a retomada do horário de verão se faz necessária.
“É o momento em que a gente deixa de gerar a solar, diminui a eólica, que são as energias intermitentes, e nós precisamos despachar térmicas”, disse.
O assunto já havia sido discutido por Silveira na semana passada, quando foi divulgado que a medida é uma das alternativas na mesa do governo para tentar evitar um racionamento de energia. Nas duas ocasiões, o ministro também afirmou que o horário de verão tem impacto positivo na economia, pois “aquece” o turismo e o movimento de bares e restaurantes.
“O efeito do horário de verão não é só de segurança energética, até porque nós não temos risco energético, mas nós temos de aumentar a segurança e resiliência do sistema para garantir energia para todas as brasileiras e brasileiros, e também a gente tem que planejar 2026”, disse.
O ministro afirmou que o assunto será discutido nesta terça em uma reunião com o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico). “Vamos avaliar o contexto, e é muito provável que a gente proponha o horário de verão ao governo para uma decisão final”, disse. “Tudo leva a crer que há uma necessidade, para não deixar a conta de energia subir.”
Especialistas e associações do setor ouvidos pela Folha alertam, no entanto, que o impacto da mudança é pequeno para os consumidores. A medida, segundo as fontes, alivia o sistema elétrico, mas não garante economia e não interfere no valor da conta de luz.
Segundo o ministro, o governo quer evitar qualquer tipo de despacho extra formal das térmicas, que encarecia os custos de geração. “Por isso que o horário de verão é importante, a gente dissipa o despacho das térmicas e possibilita planejar melhor 2026.”
O horário de verão foi extinto em abril de 2019, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para Silveira, essa mudança foi feita “sem uma análise técnica”.
O retorno dessa política chegou a ser estudado alguns anos atrás, especialmente durante a crise hídrica de 2021. No entanto, estudos realizados na época mostraram que o retorno do horário de verão não produziria economia significativa de energia, pois a redução observada no horário da ponta noturna é compensada pelo aumento do consumo em outros períodos.
Durante a forte seca de 2023, o tema voltou à tona e foi descartado mais uma vez. À época, técnicos do Ministério de Minas e Energia avaliaram que o nível dos reservatórios hídricos estava alto, mesmo diante da seca, e por isso a medida não seria necessária.
Neste ano, o Brasil enfrenta a pior seca de sua história desde que se há registro pelo Cemadem (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
No entanto, integrantes do governo afirmam, sob reserva, que a situação dos reservatórios ainda não é tão grave quanto em crises históricas, como a de 2021, e alegam que o nível da água é mais que o dobro do registrado durante a crise daquele ano.
Fonte: Folha SP