A WEG está comprando a divisão de motores industriais e geradores da Regal Rexnord — o maior M&A de sua história, e uma transação que vai aumentar a presença internacional da companhia brasileira em 20% com marcas fortes e de nicho.
A WEG está avaliando os ativos da Regal — uma empresa americana listada na NYSE com market cap de US$ 9,6 bilhões — a um enterprise value de US$ 400 milhões. O pagamento será feito em dinheiro assim que a companhia obtiver as aprovações regulatórias, o que está previsto para o início do ano que vem.
A transação não deve ter um impacto relevante na estrutura de capital da WEG, que após o desembolso continuará com uma posição de caixa líquido de R$ 1 bi. O ‘carve out’ da Regal inclui 10 fábricas em sete países (EUA, México, China, Índia, Itália, Holanda e Canadá), além de marcas fortes e um time de cerca de 2.800 funcionários.
A WEG disse que a distribuição geográfica dos ativos é complementar à sua, e vai ajudar a aumentar a escala do negócio e gerar eficiências de custo. A maior parte da receita da operação adquirida vem da fabricação de motores industriais de baixa tensão (75%), e o restante de geradores elétricos. “São três marcas muito tradicionais nos Estados Unidos e na Europa, e com bastante aderência com o cliente final,” Alberto Kuba, o diretor da WEG Motores Industriais, disse numa call com analistas.
Segundo ele, as marcas Cemp e Rotor têm operações “bem interessantes” de motores de nicho nos Estados Unidos e Europa — e a transação vai “ajudar a entrar em mercados que são mais difíceis, como o de óleo e gás e naval.” “São mercados em que a WEG já tem os produtos, mas como eles dependem de muitas homologações locais, o crescimento é muito lento. A Regal já fez esse movimento anos atrás, ganhando esses mercados que são de difícil penetração.”
Segundo o executivo, há um overlap muito baixo de clientes entre as duas operações de motores industriais. Na Índia, por exemplo, a WEG entrou recentemente com uma linha de combate de motores de uso geral. “Com a aquisição vamos ter um portfólio completo de motores e totalmente complementar,” disse ele. Os ativos da Regal que estão sendo comprados pela WEG tiveram receita líquida de US$ 541 milhões no ano passado, e EBITDA de US$ 51 milhões (margem de 9,5%).
Para efeito de comparação, a WEG fez uma receita de US$ 6 bilhões no mesmo período, e opera com uma margem na casa dos 18,7%. O valor pago pela WEG implica um múltiplo de 7,7x EV/EBITDA do ano passado, em comparação aos 20x que a WEG negocia hoje na Bolsa. O JP Morgan disse que a aquisição é positiva porque mostra a “capacidade da WEG de continuar crescendo, ainda que inorganicamente, e traz sinergias potenciais importantes (tanto comerciais quanto técnicas e de custo).”
O banco nota que, no curto prazo, a transação terá um impacto negativo de 0,8 ponto percentual na margem EBITDA da WEG, dada a margem muito menor da Regal. “Mas vemos um impacto agregado positivo de entre 3% e 4%,” escreveram os analistas. O CFO da WEG, André Luis Rodrigues, disse que a companhia espera levar a margem EBITDA das operações da Regal para um patamar próximo às margens que a WEG tem neste países e mercados.
Essa melhora nas margens virá das sinergias — com a integração dos negócios — e também de um uso maior da capacidade da Regal. Hoje, as 10 fábricas que estão sendo adquiridas operam com uma ociosidade de cerca de 50%, e a ideia da WEG é levá-las a 100%. “Teoricamente, temos condições de dobrar o volume produzido hoje apenas com a estrutura que já existe, sem fazer nenhum grande investimento adicional,” disse Kuba.
O executivo ressaltou ainda que há uma oportunidade grande de verticalização de parte dessas operações, com a fundição que a WEG tem no México passando a fornecer produtos para as fábricas da Regal nos EUA e México. Segundo ele, a fundição no México tem capacidade ociosa que pode ser usada para atender essas novas fábricas, sem precisar de mais capex.
Para a vertical de geradores da WEG, a transação de hoje é um “game changer,” nas palavras de João Paulo da Silva, o diretor da WEG Energia. “A WEG tem uma posição de liderança em geradores no Brasil, mas no exterior nossa posição era muito pequena. Temos poucos clientes fora do Brasil,” disse ele. “A aquisição da Marathon — que é uma marca consolidada no Canadá e EUA — vai nos posicionar num novo patamar em termos de market share. Vamos passar a ser um player importante no mundo, principalmente na América do Norte.”
Assim como em motores industriais, a fábrica de geradores da Regal também estava largamente ociosa. Enquanto em motores a ociosidade tinha a ver com uma falta de foco da Regal nesse segmento, em geradores isso aconteceu porque a companhia construiu recentemente novas fábricas na China e México, com uma capacidade muito maior.
Fonte: Brazil Journal