A COP26, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, acaba nesta quinta. Na terça, assisti a debate de um fórum paralelo sobre longevidade, que também estava sendo realizado em Glasgow (Escócia), sede do evento. O recado dos participantes foi claro: não dá para pensar em longevidade ativa sem um planeta saudável. Aliás, costumamos nos referir à natureza como algo externo – o conjunto de florestas, rios e animais – quando somos parte dela. Portanto, com a expectativa de a população mundial bater a casa dos 10 bilhões de seres humanos em 2050, está muito claro que as pessoas se tornarão cada vez mais vulneráveis diante de eventos climáticos violentos.
“Temos que reunir as agendas do envelhecimento e do meio ambiente numa só, elegendo o combate à pobreza e à desigualdade como fio condutor das políticas públicas. A saúde depende de todos os acontecimentos ao longo do curso de vida de um indivíduo. Ter um meio ambiente saudável é fator indispensável para que consigamos que as pessoas vivam a maior parte de suas existências sem doenças”, resumiu a médica epidemiologista Carol Brayne, professora da faculdade de saúde pública da Universidade de Cambridge. Para Bobby Duffy, diretor do Instituto de Políticas do King´s College London, está na hora de também unir as gerações em torno desse objetivo e derrubar o mito de que somente os jovens se preocupam com o meio ambiente: “governos costumam trabalhar no curto prazo e precisamos de um comprometimento de longo prazo que não separe as políticas ambientais das de saúde e longevidade”.
Relatório divulgado no começo do mês pela Associação Norte-americana de Psicologia (APA em inglês) alertou para as consequências das mudanças climáticas na saúde mental. De acordo com o trabalho, o precipício que se avizinha inclui uma penca de problemas relacionados com o aumento da temperatura: crescimento do número de vetores de transmissão de doenças; transtornos respiratórios e alérgicos; e comprometimento do abastecimento de água e alimentos, entre outros. “Os efeitos não são apenas físicos, haverá um ônus mental pesado, como observamos depois de desastres naturais que desorientam as pessoas e provocam estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. Os vínculos sociais poderão ser fortemente afetados, com risco de aumento da violência”, afirmou Arthur C. Evans Jr., CEO da entidade.