Apesar de ter surgido na década de 1970 e ser obrigatório desde 2006 nos Estados Unidos, o Building Information Modeling (BIM, na sigla em inglês) – Modelagem da Informação da Construção – passou a ser utilizado no Brasil somente há cerca de 12 anos. Não obstante, o método de construção vem ganhando mercado e, mais recentemente, recebeu nova injeção de ânimo com a publicação do Decreto Federal nº 10.306, de 2 de abril de 2020, que institui a obrigatoriedade do BIM em alguns setores do governo desde janeiro último. Ao engenheiro que se qualificar para acompanhar essa tendência, a perspectiva é de boas oportunidades de trabalho.
O decreto estabelece o uso, de forma gradual, do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia pelos órgãos e entidades da administração pública federal. Assim, desde o início deste ano o software está sendo utilizado em dois setores: pelo Ministério da Defesa, nos imóveis do Exército, da Marinha e da Força Aérea Brasileira (FAB); e pelo Ministério da Infraestrutura, em investimentos em aeroportos regionais e também no reforço e reabilitação estrutural de obras de arte especiais em estradas federais. A implementação avançará ainda mais em 2024, quando está prevista a utilização na execução direta ou indireta de projetos de novas construções, reformas, ampliações ou reabilitações e, por fim, em 2028, também no seu desenvolvimento e gestão. A expectativa é reduzir custos, dinamizar e dar transparência aos processos licitatórios.
Rosângela Castanheira, tecnóloga em construção civil com notório saber em Engenharia de Custos, lembra que nos últimos cinco anos o uso da modelagem teve crescimento muito forte e que um decreto governamental (nº. 9.377) de 2018 contribuiu para organizar e sistematizar sua disseminação no País.
Há 33 anos, ela fundou a Tríade Engenharia de Custos, especializada em consultoria em orçamento, planejamento e gerenciamento de obras. Nos últimos anos, começou a prestar consultoria também para projetos em BIM. Mais recentemente, idealizou atividades como as “Terças de BIM”, em parceria com a arquiteta e urbanista Meire Garcia, e a mentoria “Faça BIM!”, que contribuiu para disseminar a metodologia.
Segundo a especialista, BIM é um processo que prevê uma construção virtual, um modelo em terceira dimensão (3D) que carrega informação, sendo assim, um imenso banco de dados. “Desse modo, é possível usar esse modelo para simulações e extração de muitas informações, de modo que se resolva todo e qualquer tipo de problema. A obra construída a partir do projeto desenvolvido no processo BIM tende a ter muito menos problemas e erros, evitando retrabalhos e custos extras, muito diferente do processo tradicional em duas dimensões (2D)”, explica.
Ela se refere ao trabalho feito a partir do CAD (sigla em inglês para computer-aided design, que significa “projeto assistido por computador”), usado para projetar e fabricar protótipos, produtos acabados e processos em 2D. Já o processo em 3D possibilita prever todas as etapas da construção com mais eficiência para, por exemplo, a compra de material e contratação de mão de obra.
Melhoria de projetos
A novidade foi suficiente para atrair olhares a esse tipo de metodologia, que, segundo um dos idealizadores, Charles Eastman, do Instituto de Tecnologia da Georgia, “é uma filosofia de trabalho que integra arquitetos, engenheiros e construtores (AEC) na elaboração de um modelo virtual preciso, que gera uma base de dados que contém tanto informações topológicas como os subsídios necessários para orçamento, cálculo energético e previsão de insumos e ações em todas as fases da construção”.
De acordo com o “Mapeamento de Maturidade BIM Brasil”, realizado entre 29 de junho e 4 de setembro de 2020 e publicado em novembro do mesmo ano, das 643 empresas e profissionais que participaram do estudo, 247 declararam que já haviam utilizado a metodologia BIM, o que corresponde a 38,4% do total, concentrado nas regiões Sul e Sudeste.
Ainda conforme o levantamento, encabeçado pelo Sistema Integrado de Engenharia (Sienge) e pela empresa global de auditoria Grant Thornton, 45% terceirizam processos ligados à metodologia BIM, como coordenação 3D, criação e revisão de modelos, projeto de sistemas construtivos. A pesquisa apontou ainda que é consenso entre seus participantes a melhoria dos projetos atuais e futuros com seu uso. Para praticamente 81%, otimizam-se recursos graças às análises de simulação prévia em suas etapas iniciais.
Contudo, para quem trabalha com orçamento, o entendimento da ferramenta tem sido mais difícil. “Criou-se uma lenda urbana que era só apertar um botão, o que não é verdade. Para fazer a extração de quantitativo [para o orçamento], é preciso desenvolver um modelo adequado que siga os requisitos necessários conforme a metodologia de orçamento de obras. Deve-se alimentar o software com dados. O mais importante no BIM é o ‘I’, de informação”, constata Castanheira.
Qualificação fundamental
“Infelizmente os modelos que recebo são feitos sem nenhuma gestão e não servem para o uso BIM. Por isso, os cursos que nós oferecemos, o SEESP, a Divisão de Cursos & Treinamentos do meu escritório e outros locais, cumprem um papel importante. Precisamos propagar como se faz BIM de fato. É preciso ensinar como fazer com que esses recursos trabalhem a seu favor”, completa. Por sua vez, o cliente também tem que saber pedir o que quer ao contratar um projeto em BIM.
Meire Garcia aposta que quem se qualificar agora terá vantagens competitivas no mercado de arquitetura, engenharia e construção. Ela é professora do curso livre de BIM oferecido pelo SEESP Educação, cujo primeiro módulo abordou conceitos introdutórios, com carga horária total de 12h, em agosto deste ano. Foram quatro aulas síncronas online, no período noturno, transmitidas pela plataforma Google Meet.
Para este ano está previsto ainda um novo módulo que abordará uma parte tecnológica do BIM, com manuseio de software de modelagem, coordenação e colaboração via configuração IFC (Industry Foundation Classes), que garante troca de informações. “A partir de uma parceria firmada com a Acca Tecnologia, uma fabricante italiana de software, poderemos demonstrar como é o funcionamento da modelagem”, entusiasma-se Garcia.
Ela lembra que a forma de colaboração e atuação remota estabelecida pelo BIM foi reforçada agora, uma vez que o necessário isolamento social para impedir a disseminação de Covid-19 obrigou os profissionais a trabalharem em home office.
“O perfil do quadro de profissionais já estava mudando frente às novas demandas. A pandemia acabou favorecendo a migração mais acelerada”, observa.
Outro indício dessa mudança pode ser observado na rede Linkedin, voltada exclusivamente ao mercado de trabalho: “Muitas vagas para engenharia e construção já pedem conhecimento em BIM. As que não exigem como critério de eliminação pelo menos citam que dão preferência”, informa Garcia.
Meire Garcia aposta que quem se qualificar agora terá vantagens competitivas no mercado de arquitetura, engenharia e construção. Ela é professora do curso livre de BIM oferecido pelo SEESP Educação, cujo primeiro módulo abordou conceitos introdutórios, com carga horária total de 12h, em agosto deste ano. Foram quatro aulas síncronas online, no período noturno, transmitidas pela plataforma Google Meet.
Para este ano está previsto ainda um novo módulo que abordará uma parte tecnológica do BIM, com manuseio de software de modelagem, coordenação e colaboração via configuração IFC (Industry Foundation Classes), que garante troca de informações. “A partir de uma parceria firmada com a Acca Tecnologia, uma fabricante italiana de software, poderemos demonstrar como é o funcionamento da modelagem”, entusiasma-se Garcia.
Ela lembra que a forma de colaboração e atuação remota estabelecida pelo BIM foi reforçada agora, uma vez que o necessário isolamento social para impedir a disseminação de Covid-19 obrigou os profissionais a trabalharem em home office.
“O perfil do quadro de profissionais já estava mudando frente às novas demandas. A pandemia acabou favorecendo a migração mais acelerada”, observa.
Outro indício dessa mudança pode ser observado na rede Linkedin, voltada exclusivamente ao mercado de trabalho: “Muitas vagas para engenharia e construção já pedem conhecimento em BIM. As que não exigem como critério de eliminação pelo menos citam que dão preferência”, informa Garcia.
Quem saiu na frente foi a engenheira de custos autônoma Guadalupe Araújo Yanguas, que teve um primeiro contato com o BIM em um evento no ano de 2014. Cinco anos depois, fez uma especialização em BIM e em 2020, novos cursos. Atualmente, 50% do trabalho que faz já é em BIM. Ela conta que, além de conhecimentos básicos, é relevante se aprofundar para saber como aproveitar melhor a metodologia.
“Para a qualidade e funcionalidade do BIM, é importante estudar muito, especialmente sobre formatos que garantam a relação entre as geometrias e as informações dos elementos como o IFC. A correta troca de informações entre etapas e softwares é o que garante a interoperabilidade, característica fundamental para o BIM e também para sua democratização”, detalha Yanguas, que vai além: “Agora, felizmente, os profissionais estão percebendo que para chegar a um nível de maturidade no processo BIM, é preciso conhecer formatos como o IFC.”
Na engenharia de manutenção
O BIM também pode contribuir para a manutenção de equipamentos públicos e obras de arte. Caso a modelagem já estivesse em uso no ano de 2018, poderia ter evitado a queda de um trecho do viaduto na pista expressa da Marginal Pinheiros, perto do Parque Villa-Lobos, no sentido Castello Branco, que cedeu dois metros no dia 15 de novembro daquele ano. Além de avisar sobre a necessidade de manutenção, teria poupado o tempo para encontrar a planta do viaduto. Esta estaria salva em 3D em uma nuvem.
Se o projeto BIM for alimentado com todas as informações, acompanhará todo o ciclo de existência da construção, contribuindo com a gestão, como no caso de hospitais que têm manutenção mais complexa. Se for pensado para essa finalidade, vai gerar um banco de dados que alertará sobre a vida útil dos equipamentos. “Se fizer a modelagem de um prédio com todas as informações, é possível administrar e realizar manutenção. O projeto vai avisando quando é preciso lavar a caixa d´ água, trocar lâmpadas, canos e até quais marcas foram usadas ou são compatíveis”, revela Castanheira.
Fonte: FNE